Era o final de uma palestra sobre feminismo. Falamos sobre assédio, sobre as opressões cotidianas que vivemos e sobre como podemos aliviar esse fardo se nos unirmos em vez de competir e julgar – como tantas vezes somos ensinadas a fazer.
Uma das maneiras de financiar o jornalismo independente feito aqui na Revista AzMina é ministrando palestras em empresas, consultorias e eventos. Esses momentos também nos permitem compartilhar experiências, conversar sobre como o feminismo não é um conjunto de regras opostos ao do machismo, que vão te obrigar a parar de se depilar e odiar os homens.
Para uma jornalista, acostumada como eu estou, a medir as reações ao meu trabalho em forma de curtidas e compartilhamentos no Facebook, é gratificante perceber no olhar das mulheres presentes nas nossas palestras que aquelas palavras servem como um alívio.
Um alívio à ideia de que elas têm que ser perfeitas no trabalho, em casa e na família. Da sensação de que elas são as únicas responsáveis pelo cuidado com a casa e a família. Da culpa que as faz sentir responsáveis por um assédio no trabalho ou nas ruas.
Mas, naquele dia, uma das funcionárias da empresa quis deixar uma última palavra de reflexão, quando eu já havia encerrado a palestra: “O outro só faz com a gente aquilo que permitimos”.
Mas as violências do machismo ocorrem contra a nossa vontade e nem sempre podemos lutar contra elas. Não sozinhas.
O feminismo não é um discurso de auto-ajuda para mulheres. Ele não nos ensina que basta se sentir poderosa e linda para que possamos enfrentar as dificuldades que nos cercam.
Muitas vezes o feminismo nos dá força para seguir em frente, para não ouvir calada, para dizer não. Mas a luta contra as opressões que nos cercam não se resolve com força de vontade e o conhecimento obtido com uma hora de palestra da Revista AzMina. Esse é apenas o começo da caminhada.
Mas, se a gente achar que é e resumir uma palestra inteira afirmando que “o outro só faz com a gente aquilo que permitimos”, culpabilizamos vítimas de estupro, crianças que sofreram com a pedofilia, mulheres que sofrem com a violência doméstica.
Se hoje, graças ao feminismo e à nossa história, muitas de nós conseguem dizer não a certas violências é preciso reconhecer que fazemos de um lugar privilegiado, onde poucas mulheres podem estar. Pode ser o privilégio de conhecer o feminismo, de estudar ou de classe social e raça – as opressões que cercam as mulheres negras, por exemplo, são muito maiores do que as que me afetam como feminista branca de classe média.
Esse empoderamento que obtivemos a duras penas e que seguimos lutando para não perder não nos torna melhores do que aquelas que ainda não puderam fazê-lo, mas nos obriga a estender a mão para elas e falar:
Vamos juntas?”
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