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22 de janeiro de 2020

O feminismo é para todo mundo, ainda bem!

Ei você, já ouviu a palavra do feminismo negro hoje?

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“bell hooks mudou a minha vida” (Foto: arquivo pessoal)

Eu não poderia estrear essa coluna aqui n’AzMina sem trazer todo o axé de umas das mulheres mais incríveis que já passou, e ainda vive, por aqui: bell hooks. Feminista, escritora, crítica cultural e ativista norte-americana, bell (batizada Gloria Jean Watkins, mas adotou o nome pelo qual é conhecida em homenagem à avó paterna, uma mulher indígena) transformou a minha vida. 

E como é bom ver mulheres negras sendo referência tanto no meio acadêmico quanto nas esferas pessoais de despertar da consciência. Assim, registro aqui meus sinceros agradecimentos à ela.

A leitura do que considero hoje “o meu livro sagrado”, O feminismo é para todo mundo – Políticas arrebatadoras (livro lançado em 2000, mas traduzido para o português somente em 2018 pela editora Rosa dos Tempos) me fez ter a certeza de que bell é a porta-voz do feminismo contemporâneo que eu acredito e quero somar na construção. 

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Seus principais estudos estão dirigidos à discussão sobre raça, gênero e classe e às relações sociais opressivas, com ênfase em temas como feminismo, amor, arte, história, educação e mídias de massa. É autora de mais de 30 livros incluindo poesia e infantil (dica linda “Meu Crespo é de Rainha”, Editora Boitatá).

E qual é a letra, afinal? bell (em grafia minúscula mesmo, segundo a própria “o mais importante em meus livros é a substância e não quem sou eu”) nos ensina a simples definição, para ler repetidas vezes: “Feminismo é um movimento para acabar com o sexismo, exploração sexista e opressão”.

Ela deixa bem evidente que o movimento não tem a ver com ser anti-homem, o problema é o sexismo. E que nós mulheres precisamos primeiro olhar para nossas posturas e falas machistas, para a partir daí querer mudar o externo.

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Lembrando também da importância do pensamento interseccional, pauta forte no feminismo negro, como um “sistema de opressão interligado” e que precisa ser considerado dentro da nossa prática diária.

Aproveito a ótima oportunidade para citar e reverenciar Sueli Carneiro, uma das maiores intelectuais brasileiras. “Ao enegrecer o feminismo, as mulheres negras disseram que o feminismo brasileiro será mais legítimo se ele for capaz de representar o conjunto de todas as mulheres, sabendo que mulheres negras são maioria, portanto a agenda das mulheres negras é fundamental. É a base do feminismo brasileiro.” Vráu!

Feministas são formadas, não nascem feministas

De linguagem acessível, simples e direta (distante do jargão sofisticado, e chato, da academia), a professora hooks joga luz sobre vários temas no passeio pelos 19 capítulos de O feminismo é para todo mundo: políticas feministas, conscientização, sororidade, educação feminista, direitos reprodutivos, beleza, luta de classes feminista, feminismo global, trabalho, raça e gênero, pelo fim da violência, masculinidade feminista, maternagem e paternagem feministas, casamento e companheirismo, uma política sexual feminista, lesbianismo, amor, espiritualidade e feminismo visionário.

“Quero ter nas mãos um livro conciso, fácil de ler e de entender, não um livro longo, não um livro grosso com jargão e linguagem acadêmica difíceis de compreender, mas um livro direto e claro – fácil de ler, sem ser simplista. Desde o momento em que pensamento, políticas e práticas feministas mudaram minha vida, quis ter esse livro. Tive vontade de entregá-lo ao pessoal que amo, para que entendam melhor essa causa, essas políticas feministas nas quais acredito profundamente, e que é a base da minha vida política”, diz bell hooks no prefácio do livro.

Sua obra, seu riquíssimo e profundo trabalho acadêmico e seus livros, são ferramentas poderosas que podem auxiliar, e porque não, na nossa evolução espiritual. bell é muito generosa em dividir esse conhecimento (crítico, questionador, elucidativo e provocador) com o mundo!

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Seus livros chegam ao Brasil em boa hora: no momento em que mulheres cada vez mais tomam o protagonismo da própria narrativa e de projetos políticos para a emancipação social. É uma possibilidade de enxergar no feminismo uma ferramenta de libertação das consequências perversas das opressões, as quais atingem homens e mulheres. 

E digo mais, o patriarcado ferra com todas as pessoas: mulheres, trans, não binários, crianças, adultos, homens (sabendo que este último grupo, homens, são quem mais se beneficiam do patriarcado, do pressuposto de que são superiores às mulheres e deveriam nos controlar).

“Sejamos todos feministas”, diz a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, isso é urgente. Nós queremos aliados, homens são bem-vindos, porém precisam, e  muito, de novas saídas, ideias e práticas para ressignificar a masculinidade nociva que paira sobre a existência deles, e que inevitavelmente reflete na nossa.

Quem há séculos está pensando outras maneiras de se relacionar em sociedade? Nós, mulheres.

“O feminismo visionário radical incentiva a todos nós a ter coragem de avaliar a vida do ponto de vista de gênero, raça e classe, para que possamos compreender precisamente nossa posição dentro do patriarcado capitalista de supremacia branca imperialista”, sugere bell.

Será que estamos realmente prontas para renovar a nossa luta feminista? Acredito que sim.

O feminismo é pra todo mundo! Leiam bell hooks!

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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