São as mulheres as mais diretamente afetadas pela reforma da previdência e do trabalho. Devemos falar em aposentadas e trabalhadoras. Sabem por quê?
Porque somos nós a cuidar das crianças, da casa, dos velhos. Há prazer na maternagem e no cuidado da dependência, mas há também deveres que deveriam ser socialmente compartilhados e protegidos.
Para uma mulher cuidar das crianças é preciso que tenha segurança nos vínculos de trabalho, é preciso que os anos em que saia do mercado formal sejam reconhecidos como de trabalho de maternagem, que as múltiplas jornadas de trabalho sejam contadas para a diferença na idade de aposentadoria.
Erra quem diz que lutamos por direitos iguais e, agora, estaríamos reclamando privilégios.
Idade diferenciada ou tempo de contribuição diferenciada na aposentadoria não é tratar a previdência como instrumento de correção das desigualdades entre homens e mulheres: é proteger as famílias e as crianças. É falar de interesses coletivos.
Sim, queremos uma vida familiar e social diferente, em que homens e mulheres, igualmente, cuidem das crianças ou dos idosos, da louça e do supermercado, trabalhem na casa e na rua. Mas não é esta a sociedade brasileira do passado nem do presente.
Mudanças na previdência alteram direitos de pessoas que viveram formas de distribuição do cuidado e do trabalho no passado – alterá-las sem transição ou sem um reconhecimento claro das diferenças sociológicas entre homens e mulheres na vida da família é um erro. Mas acima de tudo: é uma injustiça. E não só para as mulheres, mas para as famílias.
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