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29 de novembro de 2017

Em cartaz no Masp, as Guerrilla Girls expõem a falta de mulheres na arte

Em sua coluna de estreia, Luisa Toller questiona o porquê de mulheres estarem em museus apenas como modelos nus

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Crédito Guerrilla Girls / David Parry/PA Wire

Ei!

Você sabe quem são as Guerrilla Girls?

Tem ido a exposições?

Consegue nomear um número de mulheres artistas visuais que ultrapasse os dedos das mãos?

Ir à exposição das Guerrilla Girls no MASP é um soco no estômago, chacoalhão pra vida, banho de verdade crua, ou chamem como preferirem. Apenas respirem fundo para pensar que o grupo de Nova Iorque existe desde 1985 e segue denunciando a pouquíssima presença de mulheres criadoras em exposições, galerias e museus.

Curiosa, paro.

Me pergunto: de onde vem a palavra museu?

De “musa”. Musas, aquelas que segundo a mitologia grega são consideradas testemunhas oculares da verdadeira história, MAS que só podem contá-la através d’Os artistas que teriam o “dom” da tradução – ou melhor, de criarem suas próprias versões.

Seria ser “casa das musas” a sina dos museus?

Seguir silenciando as mulheres artistas e contando uma história masculina, branca, cis e heterossexual e eurocêntrica? Colocando as mulheres apenas em retratos nus?

Este, minha gente, é o alvo que as Guerrilla Girls miram todos os dias há 22 anos. Sendo ativistas e denunciando através de cartazes gráficos bem irônicos as exposições com baixo percentual de mulheres entre o número total de artistas. Denunciam também artistas, colecionadores e curadores coniventes com o cenário.

As integrantes preservam suas identidades com máscaras de gorilas, o que pode ser trocadilho com a palavra “Guerrilla” mas também abre janelas para associarmos a escolha ao símbólico King Kong – o que já é assunto pra outro texto – e às fálicas bananas. Anônimas, portanto, expõem com bom humor as dificuldades do que é ser mulher e tentar fazer parte da cena cultural.

Ao longo das décadas, as Guerrilla Girls expandiram suas críticas às outras artes questionando o número de diretoras indicadas ao Oscar, compositoras e autoras de peças da Broadway e também a quantidade de mulheres nuas em videoclipes de música (mais especificamente o Hip Hop estadunidense).

Considero assustadoramente complexo ver que o incômodo provocado por elas ainda não gera proatividade suficiente para mudar esse quadro, mas o fato de tê-las em São Paulo no MASP em meio a tantas discussões sobre arte e o espaço que um museu pode representar dá início à bomba de estrogênio que elas desejam jogar (e jogam).

Bombeio então minha primeira sugestão, afinal, nada melhor para uma coluna sobre cultura do que instigar as pessoas a verem de perto o que pipoca aqui. Visitem, pesquisem, questionem.

E mais: não digo isso do lugar de musa, a “dona da verdade”, mas sendo parte dessas mulheres artistas que querem espaço para criar e poder contar a própria história.

Guerrilla Girls: gráfica, 1985-2017
MASP, de 29/9 a 14/02/2018
De terça a domingo, das 10h às 18h; quinta, das 10h às 20h (última admissão: 30 minutos antes do encerramento)
Estação mais próxima: Trianon-Masp (linha verde)

 

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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