Nos últimos dias, fomos acusadas nas redes sociais de cometer um crime. A ministra da mulher, família e direitos humanos, Damares Alves, disse que vai abrir denúncia contra a Revista AzMina. Isso porque reunimos e organizamos informações sobre aborto seguro da maior autoridade em saúde no mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fizemos o que o bom jornalismo manda: serviço público com as melhores fontes de informação disponíveis. Na reportagem, nossa diretora de redação Helena Bertho conta como o aborto é feito de forma segura nos países em que ele é permitido. Tratamos a interrupção de uma gestação no campo a que ela pertence e como é encarada nos países desenvolvidos: como um assunto de saúde pública.
“Os serviços de saúde [no Brasil] parecem que escolhem cumprir ou não a lei quando se trata dos direitos humanos das mulheres”, avalia o médico Jefferson Drezett, outra fonte de referência ouvida pela reportagem. O médico usou o protocolo da OMS para realizar centenas de interrupções de gestações nos mais de 20 anos em que trabalhou no serviço de aborto legal do hospital Pérola Byington, referência no país.
O direito d’AzMina de informar está garantido pela liberdade de imprensa e previsto na Constituição brasileira. E é essencial para o funcionamento da democracia. Não cometemos nenhum crime. Só fizemos o nosso trabalho.
Mas o aborto ainda é tratado como uma questão moral e criminal – vale ressaltar que isso está sendo contestado no STF (Supremo Tribunal Federal) por uma ação que considera a criminalização do aborto inconstitucional.
No ataque, nossos posts nas redes sociais foram enviados centenas de vezes para os perfis do presidente Bolsonaro, da ministra Damares, do ministro Moro, da Polícia Federal, do Ministério Público e de pessoas públicas. Além de nos xingarem de diversas maneiras e desejar que as mulheres que fazem aborto morram, nos acusam de fazer apologia ao aborto, pedindo que nos denunciem e punam.
Sim, aborto é crime no Brasil (salvo três exceções). Mas informação não é.
O Twitter já se manifestou sobre os nossos posts que foram denunciados e disse que não identificaram nenhuma violação das políticas da rede social nem das leis aplicáveis, como a gente muito bem já sabia.
Sites têm repercutido a reportagem, dizendo que ensinamos o passo a passo de como abortar. Um deles foi procurado pela assessoria do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP) dizendo que também vai entrar com representação contra a revista.
Estamos sob ataque. E precisamos do seu apoio para nos defender e seguir fazendo jornalismo pela vida das mulheres.
Então apoie nosso trabalho e doe para AzMina.
Se quiser baixar e compartilhar as artes que fizemos com um resumo das recomendações da OMS, estão aqui nesse link.