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29 de agosto de 2017

Conheça a história da luta das lésbicas brasileiras

O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica existe há 21 anos, mas nossa luta existe desde a colonização. São 500 anos de invisibilidade e silenciamento

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Protesto contra opressão a trabalhadores gays no 1º de maio de 1980 (Fernando Uchoa/Divulgação)

Foi em um 29 de Agosto, em 1996, que aconteceu o primeiro SENALE (Seminário Nacional de Lésbicas). Desde então, nosso dia de maior orgulho no ano.

Mas a história lésbica brasileira não começa em 1996.

Começa com Filipa de Souza e mais 29 mulheres em 1591, com a primeira visita da Inquisição ao Brasil. Acusada de “práticas nefandas”, Filipa foi açoitada, humilhada em praça pública e expulsa da Capitania da Bahia por seu envolvimento amoroso e sexual com outras mulheres.

História invisível das lésbicas da Terra Brasilis. 500 anos de invisibilidade e silenciamento.

Cassandra Rios, aos dezesseis anos e já no século XX, escreve e publica “Volúpia do Pecado”. A Safo de Perdizes não passou pelos tribunais da Santa Inquisição, mas sofreu ameaças, foi detida e perseguida. Assim como Filipa, humilhações públicas e a letra escarlate da perversão tatuada em sua história.

E as lésbicas feministas que lutaram contra a Ditadura Militar, presas, torturadas e assassinadas? E as que foram exiladas mas voltaram com a anistia de 79, com garra e vontade de lutar? E as histórias dessas mulheres que até a esquerda tenta apagar mas não consegue, como a de Marisa Fernandes, trotskista dos quatro costados, ex-militante da Convergência Socialista e participante do histórico Primeiro de Maio de 1980, quando o Grupo Somos de Afirmação Homossexual se juntou aos trabalhadores em greve no ABC paulista?

Em 19 de agosto de 1983, Rosely Roth e várias integrantes do Grupo Ação Lésbica Feminista (GALF), realizaram o levante do Ferro’s Bar, em São Paulo, pelo direito de distribuir a publicação lésbica Chana com Chana, de falar sobre lésbicas e lesbianidade, de existir amando mulheres. O levante do Ferro’s Bar é considerado o Stonewall brasileiro. Organizado inteiramente por mulheres, sofreu e ainda sofre tentativas de apagamento e invisibilidade.

Os anos 90 trazem outras lutadoras que chutam a porta e botam nos clubes, nos palcos, nos livros, em colunas de grandes jornais e revistas de circulação nacional, toda a força da mulher sapatona. As Riot Grrrls de São Paulo, as mulheres investidas de raiva santa e criativa, lideradas por Vange Leonel, lésbica orgulhosa e de múltiplos talentos, referência pra toda a geração que arrebentou os armários na caretice neoliberal da década de 1990 pós-AIDS.

A luta pela visibilidade continua. Diariamente. Estamos organizadas em coletivas, em grupos de ação, em asociações. Brigando contra o lesbofeminicídio, contra a lesbofobia, contra o apagamento de nossas histórias e de nossas vidas.

E mostrando, de novo e de novo, que Sapatão é Resistência, Sapatão é Revolução!

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


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