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Universitárias criam sistema para ajudar colegas com acidentes menstruais

Exemplos ao redor do Brasil mostram como a irmandade feminina pode se concretizar em gestos simples e se multiplicar

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Manu Marinho é uma estudante de Design recifense de 20 anos de idade que leva a irmandade feminina muito a sério – e acredita que ela deve se converter em ação coletiva. Com uma caixa de plástico, uma folha de papel, canetas e um punhado de absorventes, ela criou um posto de doações de absorvente no banheiro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para que ninguém mais passe por constrangimentos quando for surpreendida pela menstruação. Na plaquinha, escreveu: “Pegue um, caso precise. Deixe um, se tiver sobrando”.  O que ela não sabia era que, naquele momento, estava criando um movimento, plantando uma ideia de ação permanente que espalhou solidariedade e sororidade para muito além do que ela imaginou.

A ideia, que foi muito bem recebida, logo começou a ser estendida a outros banheiros da universidade, não apenas no prédio onde funcionam os cursos relativos a comunicação e arte, mas em muitos dos centros que compõem a universidade. Até o encerramento da apuração desta reportagem, somente no campus de Recife, existiam caixas de doação em, pelo menos, 16 banheiros.

Em alguns deles, a ideia foi além da doação de absorventes, sendo possível também encontrar outras coisas úteis e importantes para a preservação da boa saúde, como tubos de pasta de dente e preservativos femininos. “Eu só lembro de ter visto uma ideia parecida no Facebook e na hora pensei em fazer na minha universidade. Coloquei só no banheiro do térreo e logo a ideia se espalhou sozinha”, conta. “Eu estou muito feliz, não imaginei que outros centros fossem aderir, que as minas fossem colocar outras coisas além de absorventes.”

A estudante de Geologia Mirella Rodrigues diz que trouxe as caixinhas aos banheiros do seu centro de estudos para criar uma corrente de cuidados entre mulheres.

“Foi só mais uma forma de lembrar o quanto essas pequenas coisas são importantes e podem ajudar alguém”, diz.

“O que aconteceu no nosso departamento foi semear as boas ideias. Aliás, não custa nada ajudar o próximo. A colega que um dia passar por uma situação desagradável agradece desde já”.

Ingridhy Figueiredo, 23 anos, estuda de Engenharia de Produção. Ela decidiu levar a iniciativa adiante por achar que seria muito útil para todas as mulheres.“É meio ruim pedir absorvente a alguém no meio da aula. Pior ainda se você não conhece ninguém, fica toda sem jeito; ir no banheiro e já saber que vai encontrar na caixinha é muito mais simples”, opina. “Apesar de hoje eu não ser mais pega de surpresa por tomar remédio e já saber os dias certinhos, eu quis propagar a ideia pra ajudar as outras”.

Ingridhy também espera que as mulheres que estudam no mesmo centro que ela passem a se engajar mais em projetos de movimentos sociais que possam trazer benefícios coletivos. “Vi meninas comentando na publicação que nunca pensaram em ver isso no Centro de Engenharias, então, espero que daqui pra frente todas elas façam esforço pra aderir a qualquer movimento social que traga benefício pra gente e pra nossa universidade como um todo”.

Ainda em Recife, a ideia saiu dos limites da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e se estendeu por outras instituições de ensino superior da cidade, tanto do sistema público (Universidade Federal Rural de Pernambuco e UFPE, no campus de Vitória de Santo Antão) como do privado (Universidade Maurício de Nassau). Não parando por aí, também foi identificada a existência de caixinhas de coleta de absorventes para doação em banheiros femininos de cursos preparatórios para vestibular da cidade.

Para além da capital de Pernambuco, também foi informado que existem caixinhas postas na Escola de Referência em Ensino Médio da cidade de Bezerros, no Agreste pernambucano; Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no mesmo estado; Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade de Campinas (UNICAMP) também têm caixinhas de doação em alguns dos seus banheiros.

Durante a repercussão da iniciativa, um comentário chamou a atenção. Fernando Barbosa, participante de um grupo online da universidade onde Manu colocou a primeira caixinha, sugeriu que os absorventes que sobrassem no final do mês fossem doados a presídios femininos próximos ao Recife. Ele se sensibilizou ao ler “Presos que Menstruam”, livro escrito pela jornalista, escritora e Diretora Executiva da Revista AzMina, Nana Queiroz. Manu não pensou em ações como essa, a princípio, mas se diz aberta a qualquer sugestão que vise levar a irmandade feminina adiante: “Não tenho muita noção do que é e de como funciona um coletivo e tal, mas se rolar alguma proposta, quem sabe?”

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