Atualizada em 22 de agosto, às 14h
25 de junho: Data que a estudante de jornalismo Patrícia Lélis afirma ter sido abusada por Marco Feliciano, no apartamento funcional do deputado, quando ele teria mentido sobre uma suposta reunião da UNE. Ela afirmou, depois, para a VEJA que ele havia oferecido um cargo alto em troca dela ser sua amante; segundo ela, ao recusar a proposta, o pastor tentou estuprá-la. Patrícia diz ter conseguido fugir pois uma vizinha ouviu seus gritos e bateu na porta do apartamento.
28 de junho: O pastor publica em seu Twitter, durante uma discussão com Gregório Duvivier, um suposto print de conversa com a moça. Logo depois o tweet foi apagado.
24 de julho: Leandro Mazzini publica no Coluna Esplanada o caso, sem mencionar o nome dos envolvidos. No próprio blog, Leandro afirma que, no mesmo dia, a jovem pediu socorro à ele, via WhatsApp.
Ela afirma primeiramente ter procurado pelo próprio partido, o qual negou ajuda; e também que o presidente do partido, Pastor Everaldo, ofereceu-lhe um dinheiro para que não dissesse nada.
30 de julho: “Mulher vai para São Paulo levada por homem ligado a partido de Feliciano, que a proibiu de fazer B.O. em Brasília”, afirma Leandro em seu blog sobre um sumiço misterioso da moça.
Posteriormente, o gerente do hotel onde ela estava em São Paulo, em depoimento ao portal do G1, disse que ela fez check-in nesse dia e que, no dia seguinte, o assessor de Feliciano, Talma Bauer, foi ao local pagar o valor da hospedagem.
Até antes do dia 30, o jornalista afirma que se reuniu com a jovem e outros contatos para apurar o caso.
2 agosto: Leandro efetiva a denúncia no blog e com os devidos nomes, com as provas entregues por Patrícia ao jornalista: prints que evidenciam que o pastor havia assediado Patrícia.
Em São Paulo, a jovem grava dois vídeos desmentindo as acusações feitas pelo Coluna e afirmando ser uma jogada da esquerda para prejudicar o deputado.
O editor do blog afirma ter conversado com a mãe de Patrícia, nesse mesmo dia, que afirmou ter visto marcas no corpo da filha, que pareciam pancadas, na boca e na perna direita, no dia em que houve a agressão.
3 de agosto: Coluna divulga áudio de 28 minutos de uma conversa entre Patrícia e Talma Bauer, no qual ele não nega a acusação contra o pastor e tenta convencê-la a “por uma pedra no caso”.
5 de agosto: Para a Revista AzMina, assessor afirma que se encontrou com a moça, porém, diz que o áudio não é verdadeiro e que “Hoje se coloca até a voz do Elvis Presley no que você quiser em programas de gravação, já vi show de Michael Jackson depois de morto em que ele parecia estar no palco!”
Patrícia denuncia, em São Paulo, Talma Bauer dizendo ter sido ameaçada com uma arma por ele, para que gravasse os vídeos nos quais ela desmentia o caso. No mesmo dia, Bauer foi preso preventivamente por conta da acusação de sequestro e cárcere privado. Nossa equipe entra em contato com Patrícia, presta apoio mas ela ainda se nega a dar entrevista à Revista AzMina.
6 de agosto: Bauer foi liberado pela manhã.
Feliciano posta um vídeo em que, ao lado de sua mulher, diz haver uma “falsa comunicação” na acusação de assédio sexual e chora ao falar do apoio de sua família. Ainda afirma que perdoa a moça, apesar da denúncia.
Nesse mesmo dia, o site de notícias Gospel+ publicou uma série de prints de conversas no WhatsApp supostamente entre Patrícia Lélis e o Pastor Marco Feliciano, em que mostram Patrícia tentando seduzir o Pastor e ele recuando.
À Revista AzMina, em breve entrevista por Telegram, Patrícia afirma que está sendo vítima de campanha de difamação e as conversas divulgas são falsas.
“Já provamos que é mentira e notificamos. Agora vamos abrir processo”, escreveu. “Apenas uma foto não é minha, aquela que mostra um peito e, inclusive, aparece com a pinta no lado errado. As demais são fotos que tirei e postei no Instagram há muito tempo atrás.”
Em sua página no Facebook, Patrícia faz postagem alegando que o partido sempre soube do ocorrido. “Procurei o partido assim que os fatos ocorreram. Resultado? Me disseram: ‘Patrícia é melhor você ficar calada, não vamos tomar nenhuma providência’. Entreguei um pendrive com todas as provas em uma reunião, incluindo áudios e conversas, vídeos no próprio partido, onde a liderança teve acesso a tudo isso.
Ou seja, SEMPRE souberam do caso. Apenas depois da polícia ter que entrar no meio, o partido resolveu tomar alguma providência?”.
Bauer dá entrevista à Revista AzMina dizendo que Patrícia será investigada em São Paulo por falsa acusação de cárcere privado. Informação é confirmada pela delegacia mais tarde.
Nem mesmo Bauer defende a veracidade dos prints em que Patrícia ameaça Feliciano.
Professor de Patrícia, Hugo Studart, um dos que inicialmente denunciou o caso, escreve publicamente: “Resta comprovado que ela [Patrícia] tem fortes traços de pilantra. Mas não é ela a autoridade política em questão e sim o Feliciano”. Conclui que há evidências suficientes para que o caso seja investigado à exaustão.
Lola faz bela análise do caso.
7 de agosto: Patrícia procurou a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, em Brasília, e registrou um boletim de ocorrência com denúncias de abuso sexual, lesão corporal e cárcere privado, segundo ela, em depoimento para o G1. O B.O. continua sob sigilo.
8 de agosto: O delegado de São Paulo responsável pelo caso, Luis Roberto Hellmeister, afirma ao G1 que descartou a denuncia da moça contra o assessor de sequestro e cárcere privado, por causa das imagens recolhidas das câmeras do hotel. Nas imagens, ele afirma que Patrícia recebeu o namorado no mesmo dia e parece tratar Bauer de forma amigável.
“Com as imagens que temos aqui está descartada a hipótese de sequestro e cárcere privado. A ameaça ainda estamos avaliando” afirmou o delegado para o G1.
Patrícia esteve na Procuradoria Especial da Mulher no Senado para denunciar o deputado, e eles encaminharão a acusação ao Ministério Público. Segundo o portal G1, ainda há outras duas propostas de investigação contra o pastor, uma na Procuradoria da República do DF e outra na Procuradoria Geral da Repúblicas, ambas feitas por mulheres, uma senadora e um grupo de deputadas.
O próprio portal gospel alega ter solicitado à Patrícia um email com o posicionamento formal dela sobre a matéria, como um direito de resposta. A colocação de Patrícia, então, foi publicada no dia 8 e está expressa como se fosse de autoria do próprio portal:
“Pedimos desculpas.
Erramos. Erramos feio.
No caso recente que envolve a jornalista Patrícia Lélis e o pastor Marco Feliciano, os membros desta página feriram as regras mais elementares do jornalismo: publicamos mentiras sob a forma de verdade; acusamos uma jovem a partir de provas falsas e de montagens absurdas; não apuramos os fatos que corriam e fomos displicentes com a honra alheia, sem calcular a proporção que nossas falhas poderiam tomar.
Se você leu nossa matéria, esclarecemos aqui: todos os prints da suposta conversa entre a jornalista e o pastor foram forjados, e nada de seu conteúdo é verdadeiro – incluindo a suposta foto da moça, uma montagem a partir de uma imagem colhida na Internet. Todas as conclusões tiradas a partir do que escrevemos, portanto, só podem ser mentirosas.
Com o desenrolar do caso, percebemos muitas obviedades que apontam para a culpa do pastor Marco Feliciano, que certamente será condenado pelos crimes que cometeu. Mas sabemos que não existe a possibilidade de repararmos os danos que causamos à jornalista, à sua família, aos seus amigos e, especialmente, à verdade.
Pedimos desculpas. E que a justiça seja feita”
O portal Gospel+ afirma, na mesma matéria, que manterá segredo sobre a fonte que forneceu os prints.
Ainda no mesmo dia, cai na rede o B.O. da denúncia contra Feliciano, feito em Brasília e notícia de abertura de uma investigação interna ao PSC sobre a acusação.
Patrícia solta vídeo em que se desculpa com as feministas sobre seus ataques ao movimento no passado e agradece o apoio.
10 de agosto: Vídeo gravado escondido por Emerson Biazon revela uma suposta negociação pelo silêncio de Patricia Lélis com o assessor de Feliciano, Talma Bauer. Supostamente, ele afirma ter entregue 50 mil reais à um intermediário, chamado Arthur Magabeira, o qual afirmou a moça apenas 10 mil. Ambas as acusações se complicam, a gravação deixa claro que a jovem pediu e recebeu dinheiro do assessor, mas não esclarece se isso foi feito para evitar a denúncia contra Feliciano. Também não é possível concluir se houve ou não o crime de estupro. O rosto de Patrícia não aparece em nenhum momento do vídeo.
14 de agosto: Vai ao ar o programa Conexão Repórter, do canal SBT, especialmente sobre o caso. Entre entrevistas com Patrícia, Feliciano, Bauer e Emerson Biazon, adicionam-se algumas informações do caso:
Patrícia conta com detalhes o dia em que esteve no apartamento de Feliciano e descreve detalhadamente os cômodos da casa. O jornalista Roberto Cabrini diz que a descrição do apartamento bate com o que ele encontrou, mas enfatiza o quadro réplica da Monalisa, o qual a moça não mencionou. Ela afirma não ter ido logo após o ocorrido à polícia por conta da grande influência política e econômica do deputado, apesar de haver marcas em seu corpo. Patrícia manuseia conversas com Feliciano no seu celular, do dia 20 de junho. A moça afirma que Emerson Biazon havia oferecido para assessorá-la, por isso a ida para São Paulo. Patrícia também afirma que o primeiro dos dois vídeos publicados em sua página, desmentindo suas acusações, havia sido gravado por Cíntia Bauer, filha de Talma.
Feliciano nega todos os tipos de acusação, inclusive a compra do silêncio da moça por seu assessor. Ele diz que a conhecia porém não era próximo. Ele aponta que o endereço de seu apartamento está errado nos dois boletins de ocorrência registrados; ao ser questionada pelo jornalista sobre a localidade, Patrícia apenas aponta para a região certa do prédio. Imagens das câmeras do Ministério do Trabalho, no dia 15 de junho, mostram Feliciano entrando e saindo do local, por volta das 10 horas da manhã. Patrícia afirma que esteve com ele até as 11 horas daquele dia.
Bauer afirma que agiu só na negociação com a moça e não se comunicou com Marco Feliciano. Há poucos dias, ele pediu exoneração do cargo de chefe de gabinete do deputado. O assessor pagou as passagens e os custos da viagem de Patrícia à São Paulo; ela afirma que não sabia.
Emerson Biazon diz que Patrícia procurou jornalistas para publicação do caso, em troca de dinheiro. Ele afirma estar em Brasília quando Patrícia ligou dizendo que iria aceitar o dinheiro de Bauer – R$ 10.000, comunicado por Arthur Magabeira, seu intermediário -, e afirma que ela também havia pedido um emprego em São Paulo. Emerson diz que Arthur havia pedido primeiro 1 milhão de reais, depois 300 mil, e fechou em 50 mil, porém só entregou 10 desses para Patrícia.
16 de agosto: O Coluna Esplanada, de Leandro Mazzini, informa que a Câmara não possui mais os vídeos do hall do elevador e da portaria do prédio de Feliciano, pois estes são automaticamente apagados depois de vinte dois dias. Patrícia aposta na perícia de seu celular e das conversas via aplicativos de mensagem (WhatsApp e Telegram) para comprovar sua acusação; o telefone do deputado também será analisado.
19 de agosto: A Polícia Civil de São Paulo afirmou ao portal G1 que há um laudo, assinado por uma psicóloga, o qual coloca a estudante como possuidora de mitomania, transtorno caracterizado pela compulsão por mentir. O delegado do caso anexou o documento ao inquérito.
A advogada de Patrícia diz, também para o G1, o laudo da psicóloga não possui análise conclusiva, pois foram feitas apenas duas sessões da terapia.
Lembrando que, com ou sem laudo médico conclusivo, a situação não impede que a acusação de assédio sexual e tentativa de estupro no apartamento de Feliciano deixe de ser investigada. O caso corre no ministério público, por conta do foro privilegiado do deputado.
Perguntas ainda não respondidas:
Quem é a vizinha que teria salvado Patrícia do estupro? Por que ela ainda não veio à público?
Quando Feliciano publicou trecho de conversa no Twitter, teria isso sido engano ou ele já imaginava que Patrícia podia denunciá-lo e tentou se proteger?
Quem deu os prints com indícios de falsificação ao site gospel foi o próprio Feliciano?
Já está claro que Patrícia aceitou dinheiro de Bauer em uma parte do percurso. Mas, por quê? Seria medo de denunciar ou extorsão sempre foi o objetivo?
A polícia já teve acesso aos celulares dos envolvidos para ver as conversas no original, sem prints? (Perguntamos isso em ambas delegacias, que se recusam a responder)