O Divã de hoje é anônimo.
“Eu tenho nojo de você e pena dos seus filhos por o terem como pai. Eu quis morrer quando li que você postou #naoaculturadoestupro porque me fez achar mais uma vez que a culpa era minha. Você não tem o direito de fazer algum comentário sobre a cultura do estupro. Você é a cultura do estupro. Por quê? Vou enumerar algumas razões. E se eu que nem te conheço direito sei, imagina quantas outras devem existir.
- Por dizer que sua ex-namorada de 22 anos é louca ou imatura por estar te processando. Você só a agrediu e arrombou o portão da casa dela porque você, um homem de 41 anos, estava carente e ela não atendia o telefone. Ela é louca.
- Por inventar projeto fotográfico pra levar pra cama ex-namorada de “amigo”.
- Por usar um teste ridículo de 36 perguntas de “como se apaixonar por um estranho” que você achou no Google pra conquistar a confiança de uma pessoa honesta e se aproveitar dela.
- Por dizer que acredita em amizade entre homem e mulher, que tem muitas amigas mulheres, mas não respeitar quando uma mulher diz que não quer massagem.
- Por fazer uma mulher ficar em uma posição vulnerável de se abrir, expor suas dores. Parecer solidário e depois usar isso contra ela mesma. Trazer à tona todas suas fraquezas e depois se aproveitar.
- Por se revoltar com estupros no oriente médio ou onde quer que você vá, não me interessa, mas achar que tudo bem mentir pra levar alguém pra cama, tudo bem insistir quando alguém diz não.
- Por postar #naoaculturadoestupro quando você tem um processo na lei Maria da Penha.
- Por achar que tem algum direito de dizer a uma mulher que gostaria que ela fosse desse ou daquele jeito.
- Por dizer pra uma mulher que tudo bem ela fazer uma coisa que ela não quer fazer, pois ela é uma mulher independente e emancipada. Ser uma mulher independente e emancipada é falar não quando você não quer alguma coisa. Coerção não é consentimento.
- Por usar o seu reconhecimento como fotógrafo pra se aproveitar das pessoas, não só de mim. De todas as pessoas que você já tirou proveito e não só sexualmente…
- “Você percebeu que eu não estava totalmente ereto?” , foi o que você disse depois que eu pedi chorando pra parar. Você parou e disse isso como se fosse tudo bem eu estar fazendo uma coisa que eu não queria porque aparentemente você também estava fazendo uma coisa que “não queria”. Claro, fui eu que te obriguei. O tempo todo eu dizia que ainda amava meu ex-namorado e você dizia que tudo bem pois você também amava sua ex. Tudo bem pra você, pra mim não, se eu digo: eu não quero, é porque eu não quero!
- Eu cansei, mas vou deixar alguns espaços em branco que você pode preencher sozinho! Infelizmente tenho a sensação de que não vai ser o suficiente!
Não vou cair na velha armadilha do: e se fosse sua filha? Não desejo que sua filha sinta um décimo da dor que senti por sua causa. E sim, por sua causa, não minha. Contratei uma advogada para recuperar todos os vídeos e fotos desse dia fatídico. Mas eu quero mesmo é que você assista os vídeos e conte quantas vezes eu falei não. Depois você inclui todas as vezes que disse não que não estão no vídeo. E agora, não se esqueça nunca do desconforto e da dor que você me causou por me fazer achar que quem estava fazendo algo errado era eu, pra você não entender que eu não queria tudo aquilo que me levou a fazer o que eu fiz com você. Mas você não é burro não, você é ruim, não me importa seu trabalho e a sua imagem de bom samaritano que vai pro front fotografar as desgraças desse mundo, não me importa tudo que você já sofreu e todos os amigos que você já perdeu na guerra.
O seu sofrimento não te dá permissão pra causar sofrimento nos outros. Você é covarde. Você não é louco, psicopata, doente. Você sabe muito bem o que faz.
Você não fotografa porque você é altruísta, você fotografa porque enaltece a sua imagem, o seu ego. Você se alimenta da dor dos outros pra viver. Você se aproveita das causas dos outros. Você é a cultura do estupro dando entrevista sobre a cultura do estupro. Você é um hipócrita. Você me enoja tanto quanto os 33 homens que estupraram a menina no Rio de Janeiro. Você é a cultura do estupro.
E agora, você pode não me responder e sair da minha memória. Não preciso assinar, você sabe muito bem quem eu sou. E não preciso falar seu nome porque você sabe muito bem quem você é. Estupro não somente com agressão física, coerção é estupro também.
Também tem um desabafo para fazer ou uma história para contar? Então senta que o divã é seu! Envie seu relato para helena.dias@azmina.com.br