Há 20 anos a parada LGBT de Sampa é a maior do Brasil – e o número de participantes não para de crescer. Não estava na hora dessa representatividade ficar refletida no Carnaval?
Neste tão esperado 2017, em que até a Globeleza sofreu uma quebra de padrões, a bola da vez é a corte LGBT que a União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) vai eleger em um concurso que, pela primeira vez, será oficial.
A UESP é uma entidade que representa o carnaval da cidade de São Paulo, organiza oficialmente os desfiles dos grupos 1, 2, 3 e 4 e blocos especiais e deve trabalhar com grupos diversos como, por exemplo, a velha guarda, a juventude e as agremiações mirins.
“Em 2016, fomos procurados por um grupo LGBT e decidimos discutir as políticas LGBT e as questões ligadas ao Carnaval”, conta Kaxitu Ricardo Campos, presidente da entidade. Daí nasceu a ideia de realizar o concurso da corte LGBT que engloba as categorias Rainha Trans, Rainha Drag e Passista LGBT – a última, de acordo com a organização, inclui mulheres lésbicas.
O concurso vem também como uma forma de chamar a atenção para os preconceitos que LGBTs apaixonados e apaixonadas pelo samba sofrem (até mesmo dentro de sua própria “escola do coração”).
O concurso será realizado no dia 9 de fevereiro, a próxima quinta, na quadra da escola de samba Unidos da Vila Maria. Uma comissão julgadora vai escolher os vencedores, analisando os quesitos elegância, samba no pé, simpatia e caracterização.
“Eu me inscrevi para poder lutar pelas causas LGBT. Nosso público é um dos que mais investe no Carnaval com seu profissionalismo, sua arte e até financeiramente”, desabafa a candidata Michelly, inscrita no concurso na categoria Rainha Trans. “Mas dentro das quadras o preconceito é muito grande. Sonho em ser rainha por já ter sido – e ainda ser – vítima desse preconceito.”
Para a entidade organizadora, esse concurso representa um reconhecimento a este grupo tão importante no Carnaval. “A UESP quer dar visibilidade à arte transformista e drag queen e valorizar a diversidade no Carnaval”, destaca o presidente.
Para a militante e advogada especialista em direitos LGBT Iara Matos, já era hora de uma entidade organizadora se dar conta de que o público LGBT está presente no Carnaval. “Se o concurso for algo sério – e não apenas mais um motivo de chacota a que os e as participantes podem ser expostos(as) – será muito importante para a nossa visibilidade, principalmente se forem respeitados os nomes sociais das travestis, mulheres e homens transexuais”, defende a advogada.
Porém, em meio a tanto samba e purpurina, há de se considerar a velha questão dos padrões estéticos para a eleição de qualquer corte do Carnaval.
A esperança é que a comissão julgadora do concurso também se lembre do dilema desses tais padrões ao deparar-se com mulheres que não se cabem exatamente na caixinha “femininas” e que esbanjam samba no pé e elegância, por exemplo.
Michely está animadíssima e bem esperançosa em conquistar o posto de rainha trans. Mas, ela sonha ainda mais longe: “Ainda tenho esperança de que um dia poderemos ser como somos e fazer o que nos traz felicidade sem que o gênero seja uma questão.”
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