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O ENEM será o retrato de uma juventude machista?

"O que me intriga e me preocupa bastante é a quantidade de notas baixas que possivelmente verificaremos em alguns dias como resultados das redações dos mais de 7 milhões de inscritos no exame"

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Muitas salas de aula nunca debateram o assunto
Muitas salas de aula nunca debateram o assunto

Muitas foram as comemorações pelo tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio deste ano. Sim, é motivo de grande celebração um avanço como esse diante de tantos projetos de lei intragáveis que vem sendo empurrados goela abaixo por seres (humanos?) que nem merecem ter seus nomes citados. O que me intriga e me preocupa bastante, como educadora do Ensino Médio, é a quantidade de notas baixas que possivelmente verificaremos em alguns dias como resultados das redações dos mais de 7 milhões de inscritos no exame.

Retrato de uma juventude machista? Não me parece tão simples assim…

Para aquel@s que, como eu, já viveram imersos no ambiente escolar, circulando entre salas de aula, intercambiando experiências com mais de mil adolescentes a cada semana, o buraco deveria ser mais embaixo. O tema deste ano pegou de calças curtas as escolas conteudistas e conservadoras, que cobram em suas incansáveis provas mensais, bimestrais e simulados, os conteúdos constantemente presentes nos grandes vestibulares do país.

Bruna Naomi, de 17 anos, ex aluna de colégios que julga serem integrantes desse time, se queixa de nunca ter presenciado uma aula sequer sobre temas como o pedido na redação. “A escola faz sim parte da nossa criação e acho que o feminismo não é discutido de forma alguma. A sociedade, em geral,  incluindo as escolas, ainda trata a mulher bem diferente e numa posição inferior. Como quando, por exemplo, o erro dos meninos é tratado com normalidade, por eles serem meninos. Ou quando, assim como ocorreu comigo,  pais de meninas são chamados nas escolas por elas se sentarem inadequadamente e não como as ‘mocinhas’ que deveriam fazer”, desabafa.

Sendo a escola peça chave em nossa sociedade, cabe a ela escolher se vai apenas refletir o silenciamento de temas tão importantes como o machismo ou posicionar-se de maneira eficaz a combatê-lo, considerando este um dos temas de imprescindível discussão para uma significativa transformação social.

O tema da redação ter sido a violência contra a mulher faz parte de um processo de evolução que está acontecendo na sociedade, e que é de extrema importância acontecer mais vezes. Que isso seja mais discutido! Que seja exposta a situação das mulheres para que haja uma mudança”, clama Bruna.

E é de fora para dentro que a temática é trazida à tona esta semana. Para o professor doutor Ivan Martin (Unifesp), é um momento crucial, sem dúvida, em que professores de todo o Brasil resolverão as questões do exame com seus alunos, tendo a oportunidade de debater o machismo e ajudar tantas mulheres a se sentir empoderadas e expor o que sentem e o que pensam.

Eu fico aqui, na torcida, para que também nessas escolas em que os números de aprovados na USP são diretamente proporcionais ao que consideram “qualidade de seu ensino”, tais discussões não mais se limitem a apenas algumas aulas por ano conseguidas a duras penas pel@ professor@ de humanas subversivo que resolveu pausar o planejamento…

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