Um dia, a mineira Ana Luisa Correard precisou trocar o gás da sua casa. O colega com quem dividia o apartamento não estava e ela precisou fazer isso sozinha. Aquilo que deveria ser uma ação simples de manutenção doméstica rapidamente se transformou em medo e constragimento. O entregador, um homem estranho que estava em sua casa vazia, começou a fazer perguntas como “você está sozinha?”, “e aquele seu amigo que mora aqui, ele está?”. Ana se sentiu péssima. “Por que não uma mulher pra fazer serviços de manutenção de casa? Todas nos sentiríamos mais seguras”, pensou ela.
Depois de uma desilusão no mercado audiovisual, seu trabalho de formação, Ana lembrou dessa situação e de muitas outras semelhantes que já havia ouvido de outras mulheres. Percebeu, então, que havia aprendido a fazer a quase todos os serviços manuais da casa em que morava. A ideia surgiu: “Por que não eu?”. Fez um post em seu facebook, em agosto de 2015, oferecendo seus serviços de manutenção e obteve uma grande repercussão.
Inicialmente, o negócio funcionava como uma fonte de renda complementar para Ana, mas a demanda pelos serviços aumentou de tal forma que ela teve de largar o seu antigo emprego. E assim, com pouco dinheiro para o investimento e algumas ferramentas, nasceu o m’Ana, um serviço de consertos domésticos de mulher pra mulher. Depois de 1 mês, Katherine Pavloski, arquiteta curitibana, comprou a ideia e se juntou ao negócio. Apesar de ser arquiteta, Katherine gostava mesmo de trabalhar em chão de obra, batendo muita boca com os homens que dominam quantitativamente o espaço.
“Os engenheiros e os próprios pedreiros já me contrariaram muito, como se eu não fosse capaz”.
Elas oferecem serviços de elétrica, hidráulica, pintura, montagem e instalação de móveis e utensílios, a um preço justo, de forma a não subestimar as outras mulheres que não entendem do serviço, cobrando horrores, como muitas vezes acontece. O m’Ana também tem propósitos sociais e se limita a atender mulheres, para a tranquilidade das profissionais e também das clientes, que não necessitarão lidar com um homem completamente estranho dentro de casa, muitas vezes sozinho com elas.
Elas também se propõem a ensinar as clientes a fazerem os serviços, fazendo um primeiro atendimento via telefone, publicando tutoriais em vídeo nas redes sociais e, atualmente, começaram a abrir pequenos cursos de capacitação.
“Não queremos que as clientes dependam de nós”, afirma Ana.
Como é um mercado predominantemente masculino, as duas sócias já foram discriminadas algumas vezes. O fato de serem duas mulheres a executarem os trabalhos já causou estranhamento em lojas de ferramentas e até nas casas das clientes, como conta Ana: “O marido dela [da cliente] ficava nos cercando e fazendo várias perguntas técnicas. Me irritei e desisti do serviço”.
Elas afirmam, ainda, que as páginas nas redes sociais e o número de telefone que disponibilizam para contato é frequentemente atacado, de maneira grotesca, por grupos de ódio. Mas que isso não as desanima, o andamento da empresa só tende a se fortalecer, graças ao feedback positivo das clientes.
*Fotos: Amanda Negri