
Estreia esta semana um documentário no qual diversas mulheres, de todos os tipos de recortes sociais, trazem suas experiências pessoais com o assédio sexual, como se falassem diretamente ao espectador. Emocionadas e muitas não identificadas, elas desabafam – algumas pela primeira vez – sobre traumas e situações humilhantes ocorridas com desconhecidos e, a maioria, com membros da família ou amigos próximos.
“Precisamos falar do assédio” reuniu 140 relatos e exibe 26 deles em um longa de 80 minutos. Um filme que causa um aperto no coração de qualquer mulher que assista (talvez de qualquer pessoa), seja feminista ou não, que conheça a sensação descritas. Ele também nos provoca ao mostrar o quanto culpabilizamos as vítimas e naturalizamos certas atitudes de assediadores.
Os depoimentos foram colhidos durante a semana da mulher em nove lugares de São Paulo e do Rio de Janeiro, tanto na periferia quanto em bairros nobres. As mulheres ficavam fechadas, sozinhas e à vontade, dentro de uma van-estúdio e falavam em frente a câmera, sem ninguém da produção poder ouvir, ver ou intervir. Dessa forma, elas se sentiram menos coagidas a desabafarem. Algumas não quiseram se identificar e utilizaram máscaras coloridas.
É possível identificar os mais diferentes tipos de assédio, da abordagem de um desconhecido na rua, ou de um colega no trabalho, até o abuso por algum membro da família ou de amigos próximos; do assédio no transporte público, ao que acontece dentro de casa, à noite em um terreno baldio, na rua ou em um ponto de ônibus ao meio dia. A maioria delas aparenta dificuldade em falar sobre os ocorridos e algumas se emocionam, contam sobre a descrença do resto dos familiares e da polícia, além da culpa que as assombrou por tempos.
A montagem e a edição do filme são relativamente simples, e algumas intervenções da produção, ao abrirem a porta da van, foram mantidas; isso chama atenção à veracidade da emoção dessas mulheres e a não provocação desta por parte da produção, que não faz nenhuma pergunta ou intervenção. Ao final, a espectadora é convidada a também enviar seu depoimento sobre assédio, no site do projeto.
O filme, dirigido pela jornalista Paula Sacchetta, estréia essa quarta (21) no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A partir do dia 27 será exibido em grandes cinemas de São Paulo e depois no cinearte da UFF, no Rio de Janeiro. Atenção especial ao dia 29 de setembro em que o filme será exibido ao ar livre, no vão do MASP.
Confira o trailer: