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As lutadoras do Morro do Alemão

Jovens entram academias de judô, muay thai, kickboxing e MMA para competir - e treinam com os garotos, de igual para igual

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Por Daniele Apone e Helena Brandi

 

O  desempenho da judoca norte-americana Ronda Rousey, primeira campeã feminina a receber o cinturão do UFC, e também de sua rival brasileira, Bethe Correa, está influenciando meninas da nova geração. E, no Complexo do Alemão, famosa comunidade do Rio de Janeiro, a luta delas vai além do tatame e se torna um desafio contra dificuldades econômicas e preconceitos.

Adrielle Augusto, de 15 anos, por exemplo, luta kickboxing há três e vai estrear ano que vem no MMA. Seu sonho é conquistar o título de Ronda. “Já fiz ballet, futebol e vários outros esportes, mas foi pela luta que me encantei”, comenta ela, que é atual campeã estadual de muay thai do Rio de Janeiro. Adrielle, que já ganhou medalhas no campeonato Brasileiro de Kickboxing, no Intemunicipal e na Copa Brasil, foi também classificada para o mundial e o sul-americano, mas a equipe não tinha dinheiro para pagar suas passagens.

Apesar de ser chamada de moleque por conviver com garotos, a boxeadora afirma que não se sente intimidada por treinar cercada de meninos, que considera seus irmãos.

Na minha academia tem muitas mulheres e nós ocupamos um grande espaço. Vencedores não têm sexo, cor e nem raça.

Raphael Espindola, treinador da academia de luta do Complexo do Alemão, Espindola Team, não se preocupa em dividir a turma entre meninos e meninas. “No clube, é igualdade de gênero de verdade”, ressalta Raphael, que é faixa preta em kickboxing e idealizador da academia. Segundo ele, cada vez mais meninas se interessam pelo kickboxing. E sonham em ser atletas. Ele se orgulha de dizer que suas alunas não têm qualquer frescura, até se gabam dos roxos pelo corpo. Para o treinador, isso é prova de comprometimento. Já para Adrielle, esteriótipos sociais pouco importam.

Eu escolhi a luta porque amo e não me importo em ficar com os ombros mais largos e muito menos com o preconceito das pessoas. Eu as ignoro.

Luta pelo esporte

Para levar a cabo seus sonhos e poder participar de campeonatos, as atletas da favela precisam de criatividade e empenho em dobro. Vale de tudo para viabilizar a participação em campeonatos: rifas, doações e até campanha de crowdfunding.

Foi pensando em dar oportunidade a maior número de jovens, mesmo aquelas e aqueles que não têm condições financeiras para participar das competições, como Adrielle, que a academia decidiu promover um Festival de Artes Marciais no Complexo do Alemão.

O Festival será um incentivo para seus alunos e jovens de outros clubes de luta do Alemão a treinarem e se dedicarem ao esporte. “Eles vão treinar pensando que serão assistidos por seus familiares e amigos”, argumenta Raphael.

Para realizar o Festival de Artes Marciais na sua comunidade, no entanto, este e outros sete projetos sociais da comunidade precisam de ajuda. Eles estão juntos na campanha de financiamento coletivo #TodosPeloAlemão: www.benfeitoria.com/todospeloalemao. O objetivo é reunir cerca de mil frequentadores no evento, do Alemão e comunidades vizinhas, além de formar muito mais meninas como Adrielle, que declara paixão à primeira vista pelas artes marciais.

“Infelizmente, a maioria das meninas do Alemão estão engravidando cedo ou perdendo o foco nos estudos e a luta me alertou quanto a isso”, afirma ela. “Vou fazer educação física, me formar faixa preta e me tornar treinadora. O esporte me trouxe mais foco e disciplina. Sou uma lutadora – e com orgulho”.

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