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A luta das mães solo para não faltar o básico

Sem emprego e somente com o auxílio emergencial como fonte de renda, mães chefes de família contam com apoio familiar e comunitário para se manter em casa na pandemia

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“Tem sido complicado se manter nesse período. A gente aqui tem só o essencial: o dinheiro do auxílio só dá para pagar o aluguel e a comida para mim e para minhas filhas”, diz Iolanda dos Santos, de  33 anos.

Ela tem duas filhas – uma de 9 e outra de 13 -, é mãe solo (chefe de família) e moradora do Cocaia, região periférica de Guarulhos (SP). Há seis meses, deixou a cidade de Piranhas, no sertão de Alagoas, onde morava, para se estabelecer em São Paulo. Seu intuito era conseguir um trabalho para ajudar a mãe, que também criou sozinha os cinco filhos (ela e os quatro irmãos), e agora precisa de cuidados médicos que não são inteiramente oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). 

A oportunidade de trabalho como diarista só se concretizou em março, quase três meses depois de chegar à cidade, mas em menos de duas semanas ela foi dispensada em razão do isolamento social. Assim como ela, no Brasil 45% das empregadas domésticas (diaristas e mensalistas) foram dispensadas do trabalho nesse período sem nenhuma remuneração, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva.

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A vulnerabilidade dessas profissionais aumentou na pandemia, principalmente em relação à cobertura de direitos trabalhistas. É o que ressalta o estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) publicado neste mês.

O aumento no número de desempregados no início da pandemia foi de 1,2 milhão; entre as mulheres, isso significa 14,5% de aumento contra 10,4% dos homens. Dentro desse recorte, as mães negras são mais atingidas, com 15,2% de aumento do desemprego, enquanto entre a população branca essa taxa é de 9,8%, segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início de maio.

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“Eu penso em voltar para Alagoas”

Entre as domésticas, 71% trabalham na informalidade; e entre as casas chefiadas por mulheres negras, 63% vivem abaixo da linha da pobreza. No caso de Iolanda dos Santos, ter como renda apenas o auxílio emergencial de R$1.200 inviabiliza a manutenção da ajuda à mãe nas consultas e exames médicos. Esse valor também não é suficiente em casa, já que os gastos com internet, para que a filha mais velha continue estudando, são altos. Os 8GB do plano de dados móveis de sua operadora só sustentam uma semana de uso, uma vez que os aplicativos e download de material usam grande quantidade de dados.

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A internet livre para os aplicativos do Centro de Mídias promovido pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo não funcionou e sua filha segue sem conseguir estudar, o que também coloca em risco sua renda, já que o benefício do Bolsa Família (que, em tese, ela voltará a receber após o fim do auxílio emergencial) exige que o aluno esteja acompanhando as aulas.

Com o aumento dos gastos, o auxílio merenda faz falta. Após mais de um mês cadastrada no aplicativo PicPay para receber R$55 do benefício oferecido pelo Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Iolanda dos Santos não obteve nenhum retorno.

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“Eu penso em voltar para Alagoas. Minha expectativa aqui era conseguir um trabalho para ajudar minha mãe e um estudo melhor para minhas meninas, mas não foi isso que eu encontrei. E agora, por causa da pandemia, fico sem alternativa”, conta. 

Perda de direitos

São milhares de mães que vivem situação similar. Em São Paulo, 7 em cada 10 mães cuidam sozinhas ou quase sozinhas dos filhos, o que representa 69% de todas as mães paulistanas, segundo pesquisa da Rede Nossa São Paulo. A diferença também é vista pelo território, já que a chance de ser mãe chefe de família na periferia é até 3,5 vezes maior do que no centro expandido de São Paulo.

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A expectativa era que o auxílio emergencial beneficiasse mais de 6 milhões dessas mães, no entanto, são recorrentes as reclamações da não aprovação do benefício ou a dificuldade em acessar os aplicativos de transferência do recurso. Entre as mães solo, essas falhas geraram uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF), feita pelo movimento Parto do Princípio – Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa.

Só depois da ajuda dessa rede de apoio, aliás, foi que Daniele Sampaio, de 37 anos, conseguiu começar a receber o auxílio emergencial, em maio. Nos dois meses anteriores, ela contou com a ajuda do coletivo para ter uma cesta básica e para ajudar outras mães solo a receber cestas e outros mantimentos básicos.  Daniele, que trabalha como doula, mora no Jardim São Luís, periferia da Zona Sul de São Paulo, com os dois filhos, uma menina de 5 anos e um adolescente de 17. Agora, sua principal fonte de renda é o auxílio emergencial.

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Antes da pandemia, ela fazia atendimentos particulares. Como conseguia se manter com esse dinheiro, também atendia mães de várias periferias paulistanas através do Coletivo Mãe Na Roda. “Nesse momento de pandemia, a primeira coisa que nós, mulheres, perdemos são nossos direitos, e com as mulheres [também mães solo] que atuo, elas perdem o direito de ter a doula dando suporte a elas. E como fazer esse trabalho de forma virtual, sendo que muitas dessas mães nem têm acesso à internet?”, questiona.

A professora Brunna Martins e a filha Sara: “Mesmo não trabalhando, pais não substituem professores dentro de sala” | Foto: Arquivo Pessoal

Essa reportagem faz parte da parceria d’AzMina com o Data Labe, Gênero e Número e Énois na cobertura do novo Coronavírus (Covid-19) com foco em gênero, raça e território. Acompanhe a cobertura completa aqui e nas redes e pelas tags #EspecialCovid #CovidEMulheres

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