As aulas das Universidades estão começando, muitas jovens realizando o sonho de ingressar no Ensino Superior. Mas uma pesquisa do Instituto Avon e do Data Popular alerta para uma série de atitudes que podem jogar um balde de água fria nessa celebração. Segundo a pesquisa Violência contra a Mulher no Ambiente Universitário (acesse aqui), 67% das universitárias do Brasil já sofreram algum tipo de violência na faculdade, ou seja, neste ano, mais de 714 mil mulheres devem ser vitimizadas no ambiente acadêmico.
Outro dado chocante é que 7% das universitárias afirmam que foram drogadas sem seu conhecimento e 7% já foram forçadas a ter uma relação sexual nas dependências da instituição ou em festas acadêmicas. O medo faz parte do cotidiano de 42% das estudantes entrevistadas. “Muitas vezes os trotes são associados a bebidas, drogas e excessos. Para as mulheres, são momentos de risco, uma vez que se dizem coagidas a beberem e participar de ‘brincadeiras’ e jogos”, explica Mafoane Odara, consultora de projetos do Instituto Avon.
Em relação aos trotes, 67% dos homens e 77% das mulheres afirmam que as instituições de ensino deveriam ter regras mais claras sobre a prática de violência contra a mulher. Sabe por quê? Porque os estudantes não sabem exatamente o que pode ser violência. Quando questionadas, apenas 10% das estudantes relataram espontaneamente já terem sofrido algum tipo de agressão, mas quando estimuladas com uma lista de situações, 67% reconhecem que já foram submetidas a muitas delas. No caso dos homens, o número jovens que assume já ter cometido algum ato de violência sobe de 2% para 37% quando estimulados.
A pesquisa mostra ainda que 63% das vitimas admitem não ter reagido quando sofreram a violência, muitas vezes por medo ou insegurança. Entre as entrevistadas, 36% afirmaram que já deixaram de fazer alguma atividade por medo.
Os tipos mais comuns de violência associados a este espaço são: assédio sexual, coerção, violência sexual, violência física, desqualificação intelectual e agressão moral ou psicológica.
“O estudo mostra que, infelizmente, os muros da faculdade não são impermeáveis em relação à violência contra a mulher. Dentro do ambiente universitário as alunas passam constantemente por diversos constrangimentos que vão desde a humilhação nos trotes, assédio sexual de professores até a desqualificação intelectual. Tudo isso é violência.”, explica Renato Meirelles, presidente do Instituto de Pesquisa Data Popular.
Entre os entrevistados, 64% dos homens e 78% das mulheres concordam que o tema violência contra a mulher deveria ser incluído nas aulas. Eles acreditam também que a faculdade deveria criar meios de punir agressores: 88% dos alunos e 95% das alunas compartilham essa opinião.
O estudo foi realizado ao longo de setembro e outubro de 2015, com 1.823 universitários dos cursos de graduação e pós-graduação. A pesquisa contou com uma fase quantitativa, realizada online, e uma qualitativa, com grupos de discussão envolvendo universitários de ambos os sexos e entrevistas em profundidade com especialistas.
LISTA DE VIOLÊNCIAS
Para esta pesquisa, foram definidos tipos de violência contra a mulher que vão além da violência física e sexual, que são as mais evidentes. Consultando especialistas, coletivos feministas e estudantes que vivenciam o cotidiano das universidades, chegou-se a seis grupos de violências:
- Assédio Sexual – Comentários com apelos sexuais indesejados; cantada ofensiva; abordagem agressiva;
- Coerção – Ingestão forçada de bebida alcoólica e/ou drogas; ser drogada sem conhecimento; ser forçada a participar em atividades degradantes (como leilões e desfiles);
- Violência Sexual – Estupro; tentativa de abuso enquanto sob efeito de álcool; ser tocada sem consentimento; ser forçada a beijar veterano;
- Violência Física – Sofrer agressão física;
- Desqualificação Intelectual – Desqualificação ou piadas ofensivas, ambos por ser mulher
- Agressão Moral/Psicológica – Humilhação por professores e alunos; ofensa ou xingamento por rejeitar investida; músicas ofensivas cantadas por torcidas acadêmicas; imagens repassadas sem autorização; Rankings (beleza, sexuais e outros) sem autorização.