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29 de março de 2017

Vivemos no pós-feminismo?

O que dizem aqueles que acreditam que o feminismo já não é necessário e porque eles estão equivocados

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Crédito Bruna Piazzi

Na última coluna eu falei sobre as chamadas “ondas feministas”, que nada mais são que divisões vagamente históricas que tentam organizar o pensamento e a produção acadêmica feminista. Embora essa divisão possa ser útil em alguns momentos, ela cria a falsa ilusão de que o feminismo é um movimento coeso com começo, meio e fim. E aí que começa a confusão: tem gente por aí que aredita que o feminismo já alcançou seus objetivos e o que vivemos agora é o pós-feminismo.

Basicamente o pós-feminismo abrange uma série de pontos de vista em relação ao feminismo que não necessariamente são diretamente opostos a ele, mas que indicam que ele já não seja mais necessário, pois seus objetivos já teriam sido alcançados. O termo surgiu nos anos 1980 e desde então tem sido usado para descrever teorias que analisam o feminismo de forma crítica.

Críticas não precisam ser algo ruim. Através delas aprendemos quais são os pontos fracos em nossas linhas de raciocínio e o que podemos desenvolver para fortalecer essas áreas.

Então, ironicamente, de certa forma o feminismo se beneficia de algo que diz que ele se tornou obsoleto.

É verdade que muitas falhas importantes foram apontadas em relação a inúmeras teorias feministas. Entre elas a ausência da realidade de mulheres de outras origens e classes sociais ou o foco demasiado na cultura ocidental. E coisas boas surgiram desses questionamento, pensamentos mais abrangentes e inclusivos, o reconhecimento das nossas diferenças. Duas autoras que me inspiraram muito sobre isso foram a indiana Chandra Talpade Mohanty e a argentina María Lugones.

Então se críticas podem ser benéficas, qual o problema da existência do pós-feminismo? Primeiramente, o prefixo “pós” se refere a “atrás de”, “em seguida”, “depois de” algo. Ou seja, ele dá a entender que o feminismo já não existe e foi superado, suplantado. Linguagem é algo muito importante, com efeitos que nem sempre nos damos conta. Por isso é importante “dar nome aos bois”, para usar um ditado popular.

Quando nos deparamos com a informação de que mutilação genital é algo com que ao menos 200 milhões de meninas e mulheres convivem em mais de 30 países é difícil argumentar que o feminismo não é mais necessário.

Talvez para uma pequena parcela da população em que mulheres são tão valorizadas quanto os homens, têm acesso à saúde básica, direito à educação, chances de ascender na carreira e não se sentem ameaçadas andando em uma rua escura, o feminismo possa parecer ultrapassado.

Mas aí estamos falando de empatia. Da capacidade de olhar para além do próprio umbigo. O que nos une não é nenhum tipo de verdade universal inerente a qualquer mulher em qualquer lugar do mundo. O que nos une é o reconhecimento de que experimentamos e vivenciamos realidades diferentes. Aceitar que podemos e somos diferentes nos faz mais fortes.

Que tal levantar os olhos de nossas telas e olhar para a mulher no assento ao lado no transporte público ou no carro na faixa adjacente no congestionamento e a enxergar pelo que ela é? Com as suas falhas, qualidades e toda bela complexidade e se perguntar se ela também pode se beneficiar com o feminismo e com a igualdade. Tão diferente, e ainda assim tão parecida.

Da próxima vez vamos falar sobre a importância da linguagem e de utilizar os nomes devidos para cada coisa. Ficou com alguma dúvida? Quer saber sobre algo específico? É só mandar a pergunta que a gente responde!

 

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* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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