Em 29 de janeiro é celebrado o Dia da Visibilidade Trans, uma data que é fruto da luta protagonizada por travestis e transgêneros (homens e mulheres trans, que não se identificam com o gênero atribuído ao nascer, e pessoas não-binárias, que não se identificam nem com o gênero masculino, nem com o gênero feminino). Todes estão em busca de espaço e direitos, reivindicações que estão presentes no transfeminismo. Aliás, você sabe o que é e o que busca esse movimento?
O transfeminismo é uma linha de pensamento e ação feminista que empodera falas e experiências de travestis, pessoas trans e não-binárias, questionando os estereótipos de gênero. Não reduz o gênero ao sexo biológico e considera, definitivamente, que existem muitos jeitos de ser. Luta que não beneficia apenas pessoas trans, mas “integra uma maior parte de experiências de mulheridades e feminilidades”, explica a autora do livro Transfeminismo, da coleção Feminismos Plurais, Letícia Carolina Nascimento.
UM ORIXÁ
“O transfeminismo é uma entidade, como um orixá”. É assim que a mulher negra e ativista Neon Cunha define a luta das mulheres trans. Como uma divindade pedindo para que o corpo não seja maltratado – nem por si, nem pelos outros.
A maior contribuição que o transfeminismo traz como alternância de pensamento e de intelectualidade, segundo Neon, é a liberdade de ser. “Não é só discutir a equidade, mas o direito de ser quem se é”.
Essa corrente do feminismo também defende que a sociedade reconheça a contribuição de pessoas trans em suas trajetórias coletivas e individuais, não só no momento atual, mas também resgatando suas existências desde a origem da história.
Direitos básicos, como políticas públicas que deem suporte para que pessoas trans permaneçam na escola, acessando o ensino superior, são também demandas da luta transfeminista. A comunicadora e escritora Lana de Holanda Pelech acrescenta ainda a busca para que tenham saúde de qualidade, tanto de assistência básica, como de direitos reprodutivos e ginecológicos.
INTERSECCIONAL TAMBÉM
“A gente aprende com o feminismo negro a interseccionalidade”, explica a professora do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e autora do livro “Transfeminismo: Teorias e Práticas”, Jaqueline Gomes de Jesus. Ao lutar pelos direitos das mulheres trans e travestis, o transfeminismo também questiona a ideia universal de mulher, como aquela que só é, se for branca e de classe média.
Embora tentem romper com essa ideia hegemônica, o transfeminismo não rompe com outras vertentes do feminismo. “Ele se alimenta da trajetória política e epistemológica destas outras lutas para ampliar o conceito de gênero”, complementa Letícia Carolina, autora do livro Transfeminismo.
TRANSFEMINISMO PARA TODES
Além de abrir espaço para as falas e contribuições de pessoas trans em todas as lutas feministas, é necessário que pessoas cis percebam como o estereótipo de gênero faz com que pessoas que não estejam dentro desse padrão sejam negligenciadas em direitos, benefícios sociais, segurança e trabalho. A partir dessa ideia, é possível somar esforços na luta transfeminista.
Ainda assim, a professora Jaqueline Gomes de Jesus ressalta que o transfeminismo não denuncia apenas a opressão pelas quais pessoas trans sofrem, mas também propõe uma nova reflexão sobre o que é ser cis. “Há uma pluralidade de formas”. E, para quem tiver disposto a descobrir quais, Jaqueline dá uma lição de casa: “pensar na sua identidade e na forma como você se coloca no mundo”. Ninguém precisa caber nas imposições de gênero, e o transfeminismo é um grande aliado nessa reflexão!