

No último Dia Internacional da Mulher, as mineiras do Coletivo Olga Benário em Belo Horizonte decidiram que não marchariam com os demais grupos de mulheres: queriam fazer algo que tivesse resultados mais imediatos. Por isso, ocuparam um imóvel abandonado no centro e o transformaram em uma casa abrigo que chamaram de Casa Tina Martins. As casa abrigo são locais de acolhimento para mulheres que fugiram de seus lares para salvarem a si e aos filhos de situações de violência doméstica.
“Fizemos isso porque em Belo Horizonte só temos uma casa abrigo com capacidade para atender 13 mulheres”, explica Nathália Seabre, ativista do coletivo. “Cada uma delas uma pode levar consigo apenas dois filhos de até 16 anos. E para entrar lá, ela precisa fazer exame de corpo de delito, passar por vários constrangimentos que talvez, naquele momento, ela não esteja disposta a passar. Ela pode só querer um lugar para ficar.”
Apesar do desejo intenso de oferecer esse “lugar para ficar” às vítimas de violência doméstica, as militantes temiam que a ocupação fosse retirada do local em menos de 24 horas. No entanto, com o apoio de diversos outros movimentos, conseguiram manter-se de pé por muito mais tempo: 87 dias.
A casa ocupada passou a receber mulheres em situação de risco. “Chegou uma mulher com três crianças. A gente recebeu e conseguiu encaminha-la para uma casa em outra ocupação. A gente também conseguiu ajudar uma adolescente de 15 anos que estava em situação de rua”, conta Nathália.
Elas já estavam estruturando a casa de acolhimento no local quando, em abril, o governo expediu uma ordem de reintegração de posse. O grupo se recusou a sair e teve início um longo processo de negociação. Após uma pesquisa, as mulheres descobriram que existiam diversos imóveis desocupados na cidade e passaram a exigir que um deles fosse cedido ao movimento para a criação oficial da Casa Tina Martins.
Espaço de acolhimento
Foram muitas reuniões e conversas até que uma casa perto da faculdade de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais fosse cedida. O imóvel, tombado como patrimônio histórico, foi transferido para o movimento por um prazo inicial de dois anos. Até o final deste período, a Casa de Referência da Mulher Tina Martins precisa estar funcionando completamente para que a concessão se torne definitiva.
Assim que receberam o imóvel, as mulheres já começaram a colocar o projeto em ação. Através de doações, montaram os primeiros cômodos e receberam as primeiras abrigadas.
Confira o depoimento de uma delas, uma mulher trans:
Além de oferecer um espaço para ficar, a Tina Martins também conta com atividades, uma biblioteca e algumas oficinas. O projeto pretende ainda prestar atendimento psicológico, jurídico e assistência social, mas ainda depende da arrecadação de verbas.
Por enquanto, todo o trabalho da casa é feito de forma voluntária por mulheres do movimento ou pelas próprias abrigadas, assim como todos os móveis e mantimentos usados ali são frutos de doação.
O Coletivo Olga Benário de Belo Horizonte é também responsável por uma creche em outra ocupação, que emprega mulheres que ali vivem e recebem os filhos das demais para que possam sair para trabalhar. Para conhecer mais dos trabalhos do grupo e colaborar, acesse a página delas no Facebook.