Com a pandemia do coronavírus, a manicure Flávia dos Santos, de 24 anos, tem convivido com angústias que vão além da contaminação pela Covid-19. Grávida de seis meses, ela teme não ter um acompanhante durante o seu trabalho de parto.
Como ela, muitas outras gestantes encaram medos e dúvidas em relação ao coronavírus em grupos de redes sociais de grávidas. É que com a crise na saúde, a insegurança dessas mulheres em relação ao que vão encarar durante a gestação e no parto aumenta.
As dúvidas são várias: grávidas são grupo de risco do coronavírus? O pré-natal muda com a pandemia? As mães poderão amamentar seus bebês recém-nascidos?
Reunimos as principais questões levantadas pelas gestantes e consultamos as obstetras Ana Cristina Duarte, do Coletivo Nascer, e Roberta Grabert para responder os questionamentos das gestantes em relação ao coronavírus.
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1. Grávidas são grupo de risco do coronavírus?
O Ministério da Saúde incluiu no dia 8 de abril a gestantes e puérperas no grupo de risco para o coronavírus. Segundo o ministério, todas as grávidas ou mulheres que deram à luz estão mais suscetíveis aos efeitos do covid-19 por até 45 dias após o parto. Antes, vinham sendo consideradas grupo de risco apenas gestantes de alto risco.
Como o vírus é novo, cientistas ainda tentam determinar se há maior risco de contágio ou de agravamento e complicações da doença para essas mulheres, ou até de transmissão para o feto.
2. São necessários cuidados especiais na quarentena?
A preocupação com o bem-estar mental e físico para quem está em casa tem outro peso para as mulheres grávidas, que convivem com variações de emoções específicas. “A grávida é um poço de hormônios. Além deles, tem a questão psíquica de carregar outra vida, é muita responsabilidade”, diz a obstetra Roberta Grabert. Procurar formas de se exercitar em casa, aliando hábitos que deixam a mulher mais relaxada é outra recomendação.
Com mais pessoas da família fora dos espaços de trabalho e educação, há uma tendência de que todas as questões familiares e domésticas sobrecarreguem mais as mulheres na quarentena. “Em alguns lares isso pesa muito, porque tem que resolver a casa, a comida, os filhos, estudos dos mais velhos”, diz Ana Cristina. Investir na comunicação da família e na divisão justa de tarefas é um caminho comum para as gestantes e todas as mulheres – e vai além pandemia.
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3. O que muda no pré-natal?
Muda pouco. Ficar em casa é uma das principais recomendações para não pegar coronavírus. Por outro lado, rotinas básicas da gestação incluem consultas médicas presenciais e exames solicitados de acordo com o perfil da gestante e da evolução da gravidez.
O pré-natal deve continuar sendo feito, com o mínimo de saídas possível. Roberta orienta a priorizar os exames essenciais para entender como está a saúde da gestante e do bebê. Tanto exames solicitados e quantidade de consultas variam de acordo com a saúde da mulher.
Quem deve orientar sobre isso é a médica(o) que acompanha a gravidez. “Tudo vai depender do estágio da gravidez que a mulher está, como cada grávida está se sentindo. Se ela tem outra doença, como diabetes, a orientação vai ser diferente de uma gestante que não tem problemas de saúde.”
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Para quem tem algum receio de ir às consultas ou exames, é necessário enfrentar o medo com todos os cuidados. “Se tiver que esperar, fique do lado de fora, evite salas de espera lotadas, lave as mãos, tome um banho quando chegar em casa. É mais do que suficiente”, diz Ana Cristina.
As gestantes podem ligar nos serviços de pré-natal ou para a sua médica(o) e verificar como eles se organizaram para o atendimento durante a epidemia. Cumprir os horários de consultas e exames com rigor também evita aglomerações e filas que possam surgir nas salas de espera.
Apesar disso, com a sobrecarga do sistema de saúde, pode ser que algumas mulheres tenham problemas para fazer o pré-natal. Se estiver com dificuldades para seguir o pré-natal por causa de exames e consultas desmarcados na rede pública ou privada, a mulher pode denunciar na secretaria municipal de saúde da cidade onde mora. É a secretaria que precisa oferecer uma alternativa e atender a demanda, mesmo que seja em outro posto de saúde.
4. É permitido acompanhante no parto?
Para reduzir os riscos de contágio à mãe e ao bebê na hora do parto, algumas medidas estão sendo tomadas. Normalmente, nos partos normais, as maternidades permitem que a gestante possa receber quem quiser na sala de parto. Mas durante a epidemia, Roberta conta que foi estabelecido o limite de um acompanhante por parto.
Ter um acompanhante é um direito da mulher. Conhecida como Lei do Acompanhante, a lei nº 11.108 obriga serviços de saúde público ou privado a permitirem que a gestante tenha um acompanhante no trabalho de parto, parto e pós-parto nos hospitais.
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Ana Cristina recomenda que a grávida escolha acompanhante que não tenha sintomas de coronavírus para ficar na sala e que ele evite andar pelo hospital enquanto espera a chegada do bebê. Da mesma forma que a equipe médica, o acompanhante deve usar equipamentos de proteção na sala de parto.
5. Qual é o melhor tipo de parto durante a pandemia?
Não faz diferença.
Mas como durante a epidemia somente é recomendado ir a um hospital com sintomas graves de coronavírus, devido ao risco de entrar em contato com uma pessoa contaminada, mulheres estão repensando seu modelo de parto para ficar menos tempo no hospital. A escolha está sendo pelo parto normal, que tem alta mais rápido.
No entanto, a pandemia não deve interferir nesta escolha. As especialistas explicam que o tipo de parto é uma indicação do médico, que avalia as condições de saúde da mãe e do bebê para tomar uma decisão. Apesar da recomendação médica, se a paciente desejar, ela pode escolher o tipo de parto.
6. Os bebês recém-nascidos precisam de cuidados especiais?
Se o bebê recém-nascido precisar de algum cuidado pós-parto, manter a mãe próxima do bebê na recuperação diminuiu as chances de exposição a doenças. Entre as idas e vindas do berçário para a amamentação, um vírus pode transitar com o recém-nascido, por isso as obstetras recomendam o alojamento conjunto. O bebê fica no quarto com a mãe enquanto aguarda a alta do hospital.
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7. Grávidas devem ir tomar vacina de H1N1?
Sim. As grávidas devem tomar a vacina de H1N1, de acordo com o calendário do Ministério da Saúde. A ideia é prevenir que a gestante tenha a gripe comum, porque além de evitar uma ida ao hospital em um período de pandemia de uma doença respiratória, a gripe faz mal para gestantes. “O H1N1 não gosta de grávidas e se manifesta de maneira mais agressiva nelas, o que pode influenciar o desfecho obstétrico, com complicações no parto e até óbito materno”, explica Roberta.
Gestantes podem tomar a vacina desde o momento que descobrirem a gravidez até 45 dias depois do parto. “Se a gente puder tirar as outras doenças respiratórias de cena, isso vai fazer um favor enorme para a saúde de todo mundo”, diz a obstetra.
8. E a amamentação?
O coronavírus não representa risco de que mães amamentem seus filhos recém-nascidos, pelo que se sabe até agora. Se elas tiverem algum sintoma da doença devem usar máscara durante a amamentação.
Essa reportagem faz parte da parceria da AzMina com a Gênero e Número, data_labe e Énois na cobertura do novo Coronavírus (Covid-19) com foco em gênero, raça e periferia. Acompanhe a cobertura completa aqui e nas redes e pelas tags #EspecialCovid #Covid19 #CovidEMulheres
Reportagem atualizada para incluir informação de que grávidas passaram a compor o grupo de risco no dia 8 de abril.