No contexto de eleições em meio à pandemia, as candidaturas vêm usando de forma ainda mais intensa e criativa redes sociais e aplicativos de mensagens como Whatsapp e Telegram, para publicizar suas ideias e propostas. E nesse ambiente virtual, as candidaturas de mulheres, negros(as) e LGBTI+ estão duramente expostas ao discurso de ódio e à violência política.
Dados de 2019, da União Interparlamentar, a organização mundial dos parlamentos, mostram que mais de 80% das parlamentares no mundo já sofreram algum tipo de violência política, seja psicológica ou física. Mais: 39% delas afirmaram que a violência política minou a implementação de seus mandatos e sua liberdade de expressão.
Sabemos que a violência política de gênero também é sexista em suas formas: para atacar mulheres, os agressores frequentemente apelam a estereótipos estigmatizantes vinculados ao corpo, à sexualidade, à estética e à beleza. Como mostra a literatura acadêmica, os homens são atacados pelo que dizem, enquanto as mulheres são atacadas pelo que são.
Diante desse cenário, o MonitorA, um projeto da AzMina em parceria com o Instituto Update, e o InternetLab, se uniram para coletar e analisar comentários direcionados a candidatas de todos os espectros políticos, para compreender as dinâmicas da violência política de gênero e do discurso de ódio sexista contra as mulheres.
Como funciona?
Monitoramos os perfis de 123 candidatas das diferentes regiões do Brasil no Twitter, YouTube, Instagram e Facebook, coletando postagens, comentários de usuários, e outras interações. Desenvolvemos dicionários de palavras e termos frequentemente usados em discursos de ódio sexistas nas redes, de acordo com o perfil das candidatas monitoradas, e, junto ao Volt Data Lab, uma ferramenta de visualização interna dos dados levantados.
A partir disso, vamos fazer análises dos dados levantados, para identificar as formas mais comuns de violência digital contra candidatas mulheres, os perfis que mais as atacam, as estratégias usadas e mais. Essas análises ganharão a forma de reportagens e análises, que poderão não só ajudar a pensar estratégias de defesa, mas também servir de base para combater a violência de gênero online ainda nessas eleições. Por fim, iremos trabalhar os dados finais para pensar recomendações e encaminhamentos que contribuam para a discussão da violência de gênero em termos de políticas públicas e privadas das redes sociais para o futuro.
Quais candidaturas são monitoradas?
Foram selecionadas candidatas que concorrem a cargos de vereadoras, prefeitas e vice-prefeitas de nove partidos políticos que se situam em espectros ideológicos de direita, centro e esquerda. Elas também têm diferentes perfis: são 123 mulheres negras, brancas, indígenas, heterossexuais, lésbicas, bissexuais, religiosas, cissexuais e transexuais, entre outras.
São monitoradas candidaturas de Bahia, Minas Gerais, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo – a escolha pelos estados está relacionada a pesquisa de jurisprudência sobre discurso de ódio feita anteriormente pelo InternetLab. Duas candidatas de outros estados também foram incluídas no monitoramento por sofrerem contínuos ataques: Manuela d’Ávila (RS) e Benedita da Silva (RJ).
Como forma de controle para a pesquisa, selecionamos algumas candidaturas masculinas, que nos servirão como parâmetro comparativo. Ainda que a quantidade de homens com perfis nas redes sociais monitorados seja menor, elas também atendem critérios de multiplicidade de partidos, cargos pretendidos e perfis sociais – selecionamos homens negros, brancos, heterossexuais, cissexuais e transexuais.
Parceiros
Para contextualizar os casos de discurso de ódio e violência de gênero em cada local, contamos com a parceria de cinco veículos que atuam nos estados monitorados, que vão produzir conteúdos jornalísticos específicos, com recortes de território e perfil social das candidatas:
Bahia: Marco Zero Conteúdo
Minas Gerais: BHAZ
Pará: Amazônia Real
Santa Catarina: Portal Catarinas
São Paulo: Agência Mural