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Agnes Arruda
19 de setembro de 2022

Representatividade GORDA importa

“Quando eu era uma garotinha, eu queria me ver na mídia. Alguém gorda como eu. Preta como eu. Bonita como eu”, disse Lizzo

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No seu discurso no Emmy deste ano, Lizzo deu a letra:

Quando eu era uma garotinha, eu queria me ver na mídia. Alguém gorda como eu. Preta como eu. Bonita como eu. Se eu pudesse voltar e contar à Lizzo uma coisa, diria que ela veria essa pessoa, mas teria que ser ela”.

A potente fala da cantora levantou a discussão sobre representatividade na mídia e o quanto ela importa, em especial para meninas que, desde cedo, são habituadas aos modelos de beleza e comportamento que a ninguém mais servem que ao patriarcado.

Quando hoje eu, uma mulher gorda, que é gorda desde criança, falo que meu sonho naquela época era ser uma das paquitas, as assistentes de palco da Xuxa, eu percebo o que os outros viam de absurdo. Mas quando pequena, tinha certeza que bastava colocar uma peruca loira na cabeça que estava resolvido. 

Afinal, eu sabia todos os passos de todas as coreografias das paquitas. Ensaiava e me apresentava com afinco sempre que podia, mas ninguém nunca levou muito a sério esse meu sonho. Na verdade, ao invés do estímulo, veio o balde de água fria.

Ao invés de me verem como paquita, fui comparada com os hipopótamos dançantes do desenho Fantasia, uma vez que me apresentava na sala. Daquele dia em diante, eu nunca mais me senti à vontade para dançar em público novamente.

Leia também: Como a mídia cria estereótipos que impulsionam a gordofobia

Apesar da gordofobia ser entendida como o preconceito contra as pessoas gordas, ela é experimentada de maneira muito mais visceral entre as mulheres, de forma que a maneira como elas são representadas na mídia interfere diretamente na ideia que se tem das corporeidades gordas como um todo.

Quando Lizzo fala que queria, quando criança, ver alguém gorda e linda como ela na tv, ela fala sobre como a imagem similar aos nossos corpos, e lugar de destaque, permite um sentimento tão renegado a quem é sistematicamente oprimido: o de identificação para a ressignificação.

É como quando Mariana Xavier interpretou a Jenifer no clipe do Gabriel Diniz e, neste vídeo, disse:

“A Jenifer sou eu e por causa disso ela poderia perfeitamente ser você. Já pararam para pensar o quão emblemático é ter uma mulher gorda no papel da mulher mais famosa e mais falada do Brasil no momento? Principalmente no verão, que é uma estação tão opressora, tão excludente, para quem está fora do tal padrão de beleza?”

Representatividade é isso. É colocar o corpo para jogo, em posição de destaque, sem acentuar nada, sem compensar nada, porque aquele corpo, aquela pessoa, simplesmente É. E, como ela, nós também podemos ser!

* As opiniões aqui expressas são da autora ou do autor e não necessariamente refletem as da Revista AzMina. Nosso objetivo é estimular o debate sobre as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

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