Eu confesso que não sou uma cinéfila maluca por filmes, e muito menos tenho sensibilidade para escrever uma crítica floreada e mais ou menos gentil sobre algum produto da sétima arte made in Hollywood. Mas quando me propus a escrever um texto sobre Pantera Negra, eu pensei na possibilidade de escrever sobre todos os sentimentos que se misturavam em meu corpo e coração vendo o filme. Não como aquelas listas divertidas do Buzzfeed sobre sei-lá-quantos sentimentos que eu tive vendo o filme, mas num texto amador, simples, expressando sentimentos, como sempre fiz — e ainda faço, quando não sofro algum bloqueio mental que me coloca em hiatos com prazos indetermináveis.
Mas quis dar um fim a esse hiato semana passada, quando a uma amiga postou um status no Facebook querendo saber como que os veículos feministas iriam lidar com reviews e notícias sobre Pantera Negra, e fez um convite singelo, mas importantíssimo: que as pretas falem e escrevam sobre o filme. Nada de críticas brancas do Omelete. Nada de gente branca dando seu ponto de vista sobre um filme 100% negro. Queremos ouvir e ler as jornalistas, cineastas e críticas pretas. Eu também quero. E também quero ser uma dessas pretas. À título de informação, caso não saiba: pretas assistem filmes, tá?
Fui ver o filme sob muita expectativa, como todo o povo negro ao redor do mundo indo para as salas de cinema vestidos com suas melhores roupas (acho que eu nunca fui tão arrumada ver um filme), como se fosse uma ocasião muito especial. E de fato foi.
Como eu disse lá em cima: é um filme 100% negro. Com elenco negro, direção e produção negras, trilha sonora mais negra do que nunca. É impossível não sentir o cheiro e o peso da representatividade num filme produzido pela Marvel Studios, a toda-poderosa produtora de filmes de super heróis favorita daqueles mais entusiastas das obras do senhor Stan Lee.
Ver um herói negro, que surgiu inicialmente como coadjuvante em uma história de heróis brancos (Pantera Negra apareceu pela primeira vez em um quadrinho do Quarteto Fantástico na década de 60) ganhando um filme em pleno 2018, em tempos onde a questão da representatividade negra ganha cada vez mais força na cultura nerd/geek, é algo gratificante, muito forte e cheio de significado para o povo negro que curte esse universo.
Diante disso, desde quando vi o trailer do filme pela primeira vez no Feed do meu Facebook, eu não parei de pensar em um ponto importantíssimo: as crianças negras.
Uma amiga me mostrou uma foto no Instagram que fez meu coração esquentar de felicidade: o filho de uma amiga dela, diante do banner do filme, vestido de Pantera Negra. Com um sorriso enorme no rostinho. Um pretinho feliz da vida se vendo ali (talvez pela primeira vez), naquele herói poderoso daquele banner. Uma busca rápida no Instagram pela tag #BlackPanther, e o resultado são algumas várias fotos de crianças com seus pais e responsáveis, meninos e meninas negras, de várias partes do mundo, da mesma forma que o filho dessa minha amiga: sorrindo, usando com orgulho camisetinhas com o herói da vez estampado ou com a máscara do rei T’Challa cobrindo seus rostinhos.
Fico pensando em todos os pretinhos e pretinhas que se sentiram heróis e heroínas nas salas de cinema vendo esse filme carregado de significados e ancestralidade. Fico pensando em cada pretinho se sentindo um rei como o T’Challa e em cada pretinha se sentindo poderosa como a Nakia ou como a General Okoya.
Eu confesso que saí da sala do cinema sentindo um alívio imenso. Porque talvez eu também seja uma criança que precisava dessa carga de representatividade.