logo AzMina

Por que mulheres brancas votaram em Trump?

Sociólogo da USP explica: para elas, machismo foi secundário diante de empregos

Nós fazemos parte do Trust Project


Ccomo grupo, as mulheres norte americanas votaram em Hillary Clinton nas eleições controversas que se encerraram nesta madrugada com a vitória surpreendente de Donal Trump. Após os inúmeros comentários machistas do candidato e acusações de assédio sexual feitas à ele durante a sua campanha, era esperado que fizessem esta escolha.

Declarações como “Você pode agarrá-las pela buceta” e “Quando você é uma estrela, elas deixam você fazer tudo” estão entre as mais polêmicas do novo presidente dos Estados Unidos.

Porém, há um setor de mulheres que, mesmo em meio à misógina declarada, votou em Trump: as mulheres brancas e sem ensino superior. No caso dos Estados Unidos e seu sistema universitário de alto custo, seriam as mulheres brancas das classes mais pobres. Por que? Ruy Braga, sociólogo, pesquisador da área da sociologia do trabalho, e professor da USP explica nesta entrevista.

AZMina: O que levou em sua opinião, a maioria das mulheres a votarem em Clinton?

Ruy: É evidente que Donald Trump é um sexista e chauvinista, isso é notório. Um dos principais ataques que a sua campanha sofreu foi o que ele próprio disse sobre mulheres, assim, o voto de mulheres em Hillary Clinton, além dela ser mulher, é um voto de veto ao candidato Trump.

AzMina: Por que Donald Trump obteve a parcela de votos das mulheres brancas sem formação universitária, mesmo depois de se mostrar explicitamente machista? Seria apenas afinidade com o partido republicano?

Eu não acredito que a explicação para o setor de mulheres brancas sem formação universitária votar em Trump se dê devidamente por afinidade com o partido republicano. O elemento mais forte para essa adesão das mulheres brancas pobres se deve ao fato de que ele, Donald Trump, tem prometido tirar os Estados Unidos da globalização capitalista – apesar de nós sabermos que isso é impossível.

Ele já prometeu rasgar todos os tratados de livre comércio que prejudicam os empregos, em especial o NAFTA, que exportou muitos empregos para o México, deixando uma área arrasada em várias regiões tradicionais de classe trabalhadora e média empobrecida nos Estados Unidos.

As mulheres trabalhadoras brancas sem ensino superior sofrem mais com essa crise do emprego e com essa crise de perspectiva sócio-ocupacional. Fala-se muito da retomada da economia americana, mas essa retomada é muito desigual. Você tem amplos setores norte americanos praticamente abandonados, que ficaram de fora dessa retomada bastante frágil e concentrada regionalmente.

AzMina: Para elas, então machismo foi irrelevante diante de questões financeiras mais urgentes?

Me parece que o que explica a adesão consistente de mulheres brancas da classe trabalhadora ao Trump seja o fato de que ele faz uma defesa mais explícita do emprego, enquanto há uma ambiguidade da candidata Hillary Clinton. O Trump se coloca mais nessa perspectiva, o que tende a sensibilizar, principalmente levando-se em conta o conjunto das afirmações que ele tem feito, a classe trabalhadora branca americana.

Faça parte dessa luta agora

Tudo que AzMina faz é gratuito e acessível para mulheres e meninas que precisam do jornalismo que luta pelos nossos direitos. Se você leu ou assistiu essa reportagem hoje, é porque nossa equipe trabalhou por semanas para produzir um conteúdo que você não vai encontrar em nenhum outro veículo, como a gente faz. Para continuar, AzMina precisa da sua doação.   

APOIE HOJE