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A história de como o vibrador virou artigo sexual

De equipamento médico a massageador, vibrador não foi inventado para o prazer. Foram as usuárias que se apropriaram dele como sex toy.

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Até 2030 estima-se que o mercado mundial de sex toy alcançará o valor de 62 bilhões de dólares. Mas antes de integrar um mercado bilionário e existir em formas que vão do coelhinho ao polvo, os vibradores sequer eram desenvolvidos para o prazer sexual. A história do vibrador começa na medicina e no uso exclusivo desses equipamentos por médicos dentro de seus consultórios.

Vibrador prescrito em consultório

No século XIX a medicina recomendava as “vibrações” como tratamento para os mais diversos tipos de doenças, de reumatismo à perda auditiva. Os vibradores foram inventados então para facilitar esse tratamento, existindo em versões mecânicas e a vapor. Foi só em 1880 que o vibrador elétrico surgiu, criado no Reino Unido pelo médico Joseph Granville, para poupar os esforços dos médicos ao aplicarem os tratamentos como vibrações.

Entre as muitas doenças tratadas com os vibradores estava a histeria, um diagnóstico dado majoritariamente às mulheres desde a Grécia Antiga. Não só sintomas diversos como enxaqueca e insônia, mas também comportamentos como desobediência ou muita libido eram diagnosticados como histeria. E um dos tratamentos recomendados para essa doença era a massagem pélvica feita pelo médico na paciente.

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Em 1999, a pesquisadora Rachel Maines publicou que o uso dos vibradores para o prazer sexual teria começado aí, com médicos masturbando pacientes até que elas alcançassem o “paroxismo histérico”, isto é, o orgasmo. A história se popularizou, mas também gerou reações de outros estudiosos do tema, em especial de Hallie Lieberman. A historiadora afirma que, sim, vibradores eram usados para tratamentos médicos diversos, incluindo o da histeria. Mas sobre o uso do vibrador na genitália das pacientes, não há comprovação para que essa afirmação passe de uma hipótese.

O uso secreto do vibrador

Nos últimos anos do século XIX os vibradores já não tinham mais respaldo médico, uma vez que os tratamentos com eles pareciam não ter nenhuma eficácia para a saúde. Sem o interesse da medicina, os fabricantes de vibradores se voltaram então para o público em geral. Eles passaram a ser vendidos para massagem relaxante, perda de peso e contra dores musculares. Já o uso do vibrador para a masturbação teria partido das próprias mulheres.

Ser considerado um mero eletrônico para toda a família permitiu que o vibrador fosse facilmente comprado em lojas de utensílios domésticos. Isso durante as décadas nas quais vigoravam leis rigorosas sobre a moralidade sexual nos Estados Unidos. Mas aí nos anos 60 o uso do vibrador como artigo erótico passou a ser mais difundido publicamente. Uma das responsáveis foi a feminista americana Betty Dodson. Ela recomendava vibradores como a “varinha mágica” em workshops nos quais ensinava mulheres a conquistarem autonomia sobre o próprio prazer. Embora tenha se popularizado pelo seu potencial para o prazer, a “varinha mágica” foi vendida pela fabricante Hitachi por mais de quatro décadas apenas como massageador muscular. Só nos anos 2000, quando o modelo foi adquirido por outra empresa, é que a varinha passou a ser anunciada como sex toy (brinquedo sexual).

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O vibrador evoluiu em forma, funcionalidade e popularidade no século XXI. Ele chegou na segunda década dos anos 2000, sendo silencioso só nos ruídos. Se a própria sexualidade e a masturbação feminina passaram a ser discutidas com mais liberdade, nada mais natural que o vibrador, que faz parte dessa história, também virasse assunto. Para saber mais sobre a história do vibrador desde a sua invenção, assista ao vídeo com a narração da comediante Renata Said sobre essa história no nosso canal do YouTube!

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