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Por que os brasileiros não têm empatia?

Pesquisa com 63 países nos colocou na 51ª posição na capacidade de se pôr no lugar do outro.

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Resultado do estudo em mapa. Quanto mais forte a cor, maior a empatia e quanto mais clara, menor. Os países em cinza são os que não tivera representatividade de respostas.
Resultado do estudo em mapa. Quanto mais forte a cor, maior a empatia e quanto mais clara, menor. Os países em cinza são os que não tiveram representatividade de respostas.

Andamos, ultimamente, chocados com o comportamento dos brasileiros na política e na internet. Um clima de torcida de jogo de futebol, brigas e agressões estão por todos os lados. Enquanto nossas taxas de estupro e feminicídio seguem altíssimas, acompanhamos também uma grande onda de comentários violentos que culpabilizam mulheres vítimas de violência pelo que sofreram. Do outro lado, temos um movimento feminista com dificuldade de falar com essas pessoas, muitas vezes até mesmo rechaçado. Mas porque toda essa violência? Uma pesquisa divulgada recentemente sobre empatia pode indicar uma resposta.

Empatia é a capacidade de entender as emoções e sentimentos das outras pessoas se colocando no lugar delas. Você é empático quando tenta entender o que o outro está passando como um todo, em vez de julgar a situação a partir do seu próprio ponto de vista. E, ao que parece, os brasileiros não estão muito bem nessa habilidade.

Segundo uma pesquisa da Universidade do Estado do Michigan, nos Estados Unidos, o Brasil está na 51ª posição – somente outros 12 países vão pior.

Oras, mas nós somos tão abertos, um povo alegre e receptivo, como pode termos tanta dificuldade para entender o outro? “Nossa sociedade é muito hierarquizada. Uma hierarquia pautada em classes sociais e também na origem, no sobrenome, no capital social, econômico e simbólico” explica a antropóloga Hilaine Yaccoube. “Há uma fragilidade do pertencimento a um grupo sócio-cultural, o que faz com que o indivíduo queira deixar bem clara sua diferenciação”.

Para ela, diante deste cenário, pessoas recentemente alçadas à classe média sentiram necessidade de se afirmarem ainda mais como parte desse grupo que não é mais “pobre”, que é “diferenciado”.

E como você afirma isso? Você não é o bandido, você não é o povão, você é a pessoa trabalhadora que conquistou tudo, que conseguiu crescer pelo próprio mérito. E é importante reforçar bem isso em seu comportamento e falas, na forma como você se coloca no mundo. O que se transforma em comportamentos individualistas e de exploração contra quem não está na mesma posição que você.

Dificuldade para o diálogo

Da mesma forma, Hilaine acredita que os movimentos sociais têm colocado barreiras de exclusão, que não geram a sensação de pertencimento para muitas pessoas, que se sentem de fora e precisam reforçar que não são parte desse grupo. “As pessoas foram se classificando, enxergando suas diferenças e se aglutinando em grupos de luta. O que por um lado é bom, pois criou uma série de identidades de resistência. Mas por outro lado, esses grupos vão criando muitas barreiras, que excluem, ao invés de juntar as pessoas todas”, afirma.

Ou seja, para as feministas, por exemplo, talvez, o segredo seja entender o discurso machista para dialogar com quem ainda acredita nele, em vez de apenas enxotar a pessoa da conversa.

Outra característica brasileira, segundo a antropóloga que já realizou estudos sobre empatia e consumo, é uma dificuldade para o diálogo. “Nós, não lidamos bem com conflito. Conflito não é violência, é dialética, é discordar e discutir, ter embate de ideias. O conflito é saudável e necessário. O problema é que a gente traz tudo para o campo pessoal. Religião, time de futebol, ou qualquer fenômeno social, a gente parte para uma agressão pessoal em vez de sustentar a troca de ideias”.

Equador é o país com mais empatia

A pesquisa que levantou a empatia ao redor do mundo foi a maior do tipo já realizada e vai de acordo com o que Hilaine acredita: as diferenças culturais de cada país influenciam a empatia de seu povo. Através de um formulário online, os pesquisadores levantaram respostas de 104 mil pessoas ao redor do planeta, mas os país como pouca representatividade de participação forma excluídos.

Os formulários faziam perguntas sobre aspectos como a auto-estima, coletivismo/individualismo e hábito de imaginar o sentimento alheio. E o resultado mostrou que países que possuem uma cultura mais coletivista, que valoriza a interdependência, ficaram melhor no ranking. O primeiro colocado foi o Equador e o útimo, a Lituânia.

Apesar de ter alguns aspectos questionáveis, como o fato de ter sido feita pela internet e em inglês, a pesquisa traz pela primeira vez um olhar cultural e global sobre o tema da empatia. E vale para nos lembrar que:

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