Alumínio, derivados de petróleo, formol, parabenos. Você já parou pra ler a composição dos produtos que utiliza na sua pele? Conseguiu entender o que aquele amontoado de nomes científicos podem fazer com seu corpo?
Cada vez mais consumidores têm procurado se informar sobre as fórmulas e riscos dos produtos cosméticos. De um lado, a indústria promete te ajudar a ficar linda, cheirosa e jovem por mais tempo. De outro, correntes ou grupos de emails, Whatsapp e Facebook garantem que o alumínio do seu desodorante e o parabeno do seu hidratante e condicionador podem causar câncer. Quem tem razão?
A Revista AzMina foi investigar e traz alternativas possíveis para quem busca uma vida mais natural e produtos mais artesanais.
Pequeno dicionário cosmético
Parabenos
São conservantes usados em comidas, maquiagens ou produtos para pele. Esses compostos podem ser absorvidos pela pele e alguns estudos mostraram que eles têm efeitos semelhantes ao hormônio feminino estrogênio. Segundo a American Cancer Society (Sociedade do Câncer Americana), o estrogênio “é conhecido por causar a divisão e o crescimento das células mamárias (tanto das normais, quanto das cancerígenas). Algumas condições que aumentam a exposição do corpo ao estrogênio (não ter tido filhos, menopausa tardia, obesidade, etc) são ligadas ao aumento do risco do câncer de mama”.
A associação, no entanto, ressalva que os parabenos têm efeito “milhares” de vezes mais fracos do que o estrogênio produzido pelo corpo. “Assim, estrogênios naturais ou tomados como reposição hormonal têm muito mais chances ser parte das causas do câncer de mama”, completa a American Cancer Society.
Alumínio
Está presente em antitranspirantes com a função de bloquear as glândulas sudoríparas na superfície da pele. Segundo alguns estudos, também pode ser absorvido pela pele e causar alterações nas células dos seios. A associação ressalva, no entanto, que as pesquisas não são conclusivas e não há uma ligação óbvia entre antitranspirantes que contêm alumínio e câncer de mama.
Formol
Está presente em esmaltes e produtos para alisar o cabelo. Em grandes quantidades, o formol causa enjôo, câncer, desmaios e teve seu uso proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em produtos capilares. Em pequenas quantidades, no entanto, a Anvisa libera o uso de formol como conservante de cosméticos (até 0,2%) ou agente endurecedor de unhas (até 5%).
Petróleo
Não há pesquisas sobre problemas de saúde causado por derivados de petróleo, mas muitas mulheres passaram a evita-lo porque ele não é metabolizado pelo corpo e se acumula nos fios ou na pele. “Eles formam um película na pele que muitas vezes evita que ela respire melhor. Dependendo da quantidade presente no produto, podem ser prejudiciais. Por exemplo, algumas pacientes usaram produtos com essas substâncias e começaram a ter acne. É um produto muito oleoso, que obstrui os poros”, diz o dermatologista Adriano Loyola.
Quais as alternativas
“Eu cansei de colocar produtos de origem duvidosa na pele, porque mesmo os sabonetes e hidratantes mais conhecidos usam substâncias que podem causar câncer, ressecamento e dependência desses produtos para continuar com a pele bonita”, conta Liara Guinsberg, fundadora da Lila Cosméticos Artesanais.
A farmacêutica Mona Soares conta que fundou a Ewé Alquimias em busca de vida mais saudável, natural e equilibrada. Os produtos da Ewé não possuem corantes ou conservantes artificiais e nem são testados em animais. Além de sua formação técnica de farmacêutica, Mona busca informações em cursos de aromaterapia, perfumaria botânica e fitoterapia.
“E, por último, porém não menos importantes, converso com erveiras (mulheres que trabalham com ervas), rezadeiras, pessoas mais velhas ligadas a religiões afro-brasileiras, enfim, todas essas bibliotecas vivas, cheias de sabedoria”, conta.
Low Poo
Nos últimos anos, cresceu o número de grupos de trocas de experiências e informações entre aquelas que buscam evitar alguns tipos de substâncias. Há três anos, eu descobri que podia dar mais definição e maleabilidade aos meus cachos com o uso de uma técnica conhecida como “Low Poo”, ou “pouco shampoo”. O grupo de Facebook No e Low Poo Iniciantes e a experiência empírica foram praticamente minhas únicas fontes de informação para livrar meus cabelos dos derivados de petróleo, dos parabenos e dos sulfatos. Na época, nenhum dermatologista ou cabeleireiro com quem conversei tinha sequer ouvido falar do tema.
O Low Poo consiste no uso de produtos para a lavagem de cabelos com componente de limpeza pouco agressivos e condicionadores sem derivados de petróleo. De acordo com a técnica, o uso de um shampoo de limpeza extrema só se justifica para retirar do cabelo e da pele os derivados de petróleo.
No meu caso, eu precisava lavar o cabelo todos os dias e não conseguia manter a forma dos cachos se o comprimento dos cabelos passasse dos ombros. Com o Low Poo, mesmo lavando o cabelo apenas uma vez a cada dois dias, ele permanecia modelado e o couro cabeludo continuava limpo, sem a necessidade de responder com ainda mais oleosidade à “agressão” do shampoos.
Para quem não quer ou não pode optar pelos produtos artesanais que não possuem esses componentes, o grupo criou aqui uma lista de opções disponíveis em farmácias e perfumarias. Cada cabelo tem uma resposta e uma necessidade. Paciência e tentativa e erro serão necessários para encontrar seus “pares perfeitos”.
Leia os rótulos e pesquise mais
Nem todos os industrializados usam parabenos, derivados de petróleo ou alumínio e, com o crescimento da conscientização dos consumidores, muitos fazem questão de deixar isso bem claro em suas embalagens. Na dúvida, você mesma pode adquirir o hábito de ler a composição do que compra.
Atenção: os parabenos, por exemplo, podem ser encontrados com algum prefixo antes da palavra parabeno, como “metilparabeno” ou “propilparabeno”. Já os derivados de petróleo podem reconhecidos com os nomes de óleo mineral, parafina líquida, vaselina, ou isoparafina.
Um Google rápido em “esmalte sem formol” também pode te ajudar a encontrar marcas livres dessa substância.
Faça seus cosméticos
Vai exigir pesquisa, tempo e dedicação. Mas produzir alguns dos produtos que usamos pode ser uma saída para aumentar a consciência ambiental, corporal e social.
“Alguns benefícios de usar produtos feitos em casa são o controle da qualidade, aumento da saúde da pele, além da conscientização ambiental, já que diversos produtos utilizados pela indústria não se decompõem e se acumulam na natureza, como o lauril, presente na maioria esmagadora dos sabonetes industrializados”, conta Liara.
Mona concorda: “Acredito que podemos diminuir o uso desses cosméticos, substituindo por produtos que nós mesmas podemos fazer artesanalmente com ingredientes naturais.”
“E devemos sim nos conscientizar sobre os ingredientes que usamos, para escolher cosméticos com a menor quantidade de ingredientes tóxicos possível”, conta Mona.
Não acredite em tudo que ler na internet
Amanda Greco, fundadora da Planta Eu, que produz e dá cursos sobre terapias e cuidados naturais com o corpo, pede cuidado e desconfiança com informações encontradas na internet. “A cosmética natural não é de fácil acesso. Na internet, há muita informação rasa.”
“Se você acreditar em tudo que lê na internet, vai escovar os dentes com bicarbonato (grande erro!) e destruir o esmalte dos dentes… Vai lavar os cabelos com bicarbonato e enxaguar com vinagre, deixando-os secos e sem nutrientes no longo prazo”, alerta.
Assim como Mona e Liara, ela faz cursos livres sobre o tema, estuda e mantém o diálogo aberto com outras mulheres interessadas no assunto. “Fiz a Formação em Ginecologia Natural com a obstetriz Liliana Pogliani, e conheci 30 mulheres da área. Hoje, damos sequência juntas aos nossos estudos. São médicas, terapeutas ayurvedicas, aromaterapeutas, parteiras, doulas, fisioterapeutas, naturólogas, etc”, conta.
Liara também vem pesquisando o tema há muitos anos e avalia que há pouca informação disponível sobre o processo químico e os benefícios dos cosméticos artesanais “No Brasil, não existem muitos livros de saboaria artesanal partindo do zero, a maior parte são receitas de sabão para lavar roupa, bases glicerinadas ou sabonete líquido já pronto, o que não condiz com a minha ideia de um processo do começo ao fim, com a consciência do que vai na pele, cabelo e rosto”.
Pra quem quiser começar a se aventurar neste mundo, as duas deixaram algumas receitas que são acessíveis para todas. Consulte as receitinhas aqui.
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