Por Ivy Farias
Rosa e Azul. Apesar de parecer as cores que segregam homens e mulheres desde a maternidade, este é o título do famoso quadro de Renoir. O pintor francês não foi o único a retratar meninas e nem o único artista a se inspirar em mulheres (afinal, o que é a Monalisa?!). Entretanto, a artista Nina Pandolfo ficou de fora por pintar… meninas! Às vésperas de lançar seu segundo livro, “Por Trás das Cores” (Editora MasterBooks, 212 páginas, R$99), ela cozinhava seu jantar enquanto atendia à reportagem.
Na entrevista abaixo, Nina, que já pintou castelos na Escócia e expôs suas obras em galerias em São Paulo, Nova York e Londres, deixa claro que o machismo atinge a todas – independente do patamar em que esteja e de como é importante ter uma criação sem limitações de gênero para ser o que se quiser.
NINA: Em 1991, 92, as únicas mulheres brasileiras na área eram a Yama e eu – que eu me recorde. Na época, o grafite desafiava padrões, então, não havia qualquer comentário entre nós com relação ao gênero.
NINA: Nós nos respeitávamos como artistas. Não dependia de ser homem ou ser mulher. Éramos artistas e ponto.
AZMINA: Não houve preconceito?
NINA: Pelo fato de ser mulher, não. O que existia era a associação do grafite com a cultura hip hop e, como eu pintava meninas, diziam que aquilo não era grafite. Mas como naquela época o nosso grafite também rompia paradigmas, então, para esses críticos, nenhum de nós era grafiteiro. Segui porque acreditava no meu trabalho.
NINA: Não. Eles me perguntaram o que era, se havia perigo, se era crime. Eu fazia os grafites, tirava fotos e esperava o filme acabar. Revelava e depois de umas três, quatro semanas, mostrava para eles. Depois que meus pais viram que era basicamente o mesmo que já pintava em casa, ficaram felizes.
NINA: Sempre. Conto nos dedos os meninos que pintei. As meninas sempre foram minha temática.
NINA: Em casa, sou eu e mais quatro irmãs. Tem a minha mãe.
NINA: Era “A Casa das Seis Mulheres e Um Homem Louco”. Meu pai era o único representante do sexo masculino. E, talvez por isso, em casa nunca teve brincadeiras de meninas ou brincadeiras de meninos. Fomos criadas sem barreira de gênero.
NINA: Isso existiu. Um curador de outro país (Nina prefere não especificar) buscava artistas para fazer um mural com artistas do mundo todo. Ele me conhecia, parabenizou meu trabalho e disse: “Se você não pintasse meninas, lhe chamaria para participar desta obra”.
NINA: Nada. Lamentei apenas, pois o mural não teve representação de mulheres e não teve artistas mulheres.
NINA: Sim. A justificativa dele não foi que era um problema eu ser mulher , mas, sim, pintar mulheres.
Veja a história da arte: qual o sentido de ser excluída por retratar mulheres? Este critério dele não faz sentido algum.
NINA: Agora sou considerada artista. E nas artes há mulheres como a Beatriz Milhazes, a Leda Catunda…
NINA: Sim! Não faltam mulheres na arte.
NINA: Não: minha mãe faz crochet e ensinou a técnica para minha sobrinha mais velha, para me ajudarem em uma tela de minha primeira exposição na Galeria Leme. Todas somos muito criativas, menos a minha irmã do meio, que é especialista em tecnologia da informação e costuma brincar que a parte dela passou pra mim.
NINA: Para meninas especificamente não. Mas participo de tudo o que se refere à mulher, desde campanha para prevenção do câncer de mama até todas as de enfrentamento à violência contra a mulher. Faço como cidadã e artista.
NINA: Meu livro traz o meu processo criativo e as minhas obras. Como só faço meninas…
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