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Um dia triste para o Brasil, a democracia e todas as mulheres brasileiras

É que, além das questões trabalhistas e sociais que nos preocupam, vemos um futuro ainda mais machista que nosso presente, nas mãos de um governo que começa já dizendo a política não é lugar de mulher.

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Brasileira reza para impeachment ser rejeitado, em frente ao Congresso, durante a votação Foto: Paula Fróes
Brasileira reza para impeachment ser rejeitado, em frente ao Congresso, durante a votação Foto: Paula Fróes

“Este é um governo sem ministras quando o povo escolheu uma mulher para liderá-lo”, disse, há dois dias, a presidente Dilma Rousseff em sua defesa no julgamento do impeachment.  Uma frase que cai como uma luva no dia de hoje.

Isso porque o dia em que a primeira presidenta, mulher, eleita no Brasil foi retirada de seu cargo a partir de uma lei aplicada de forma seletiva entrará para a história não apenas por todas as mudanças práticas e políticas que virão como consequência, mas também por todo o significado simbólico que vem com essa decisão. E dois grandes significados saltam aos olhos neste momento: a democracia foi desafiada. E nesta nova formatação política que ganhamos, mulheres não são consideradas dignas de ocupar grandes espaços de poder.

Não consideramos que a presidenta é perfeita e em muitas ocasiões nos decepcionou (como ao dar para trás na pauta do aborto), mas o crime pelo qual foi acusada foi aplicado de forma seletiva, já que muitos já o cometeram sem sofrer a mesma sanção.

Então fica claro que foi uma manobra política que retirou Dilma do governo. Uma manobra articulada pelos homens que há décadas controlam o poder em nosso país. Homens ricos, brancos e comprovadamente corruptos que não souberam aceitar a presidenta e deram o recado: o Palácio do Planalto não é lugar de mulher.

Naturalmente, seria desonesto dizer que foi somente a misoginia que fez com que Dilma sofresse o impeachment, mas a misoginia foi componente de todo o processo, dos gritos de “vagabunda” nas ruas até os “fora, querida” de deputados. Muitos outros motivos políticos e econômicos também estavam por trás. Os motivos dos homens ricos e brancos que governam para os seus. E o que assistimos é um retrocesso de direitos humanos.

É preocupante ver que durante o governo interino de Michel Temer, todo o plano de governo da chapa pela qual foi eleito como vice foi desmontado. E das medidas que anunciou, muitas são de dar medo para pobres, negros, trabalhadores, a população LGBT e, sim, nós mulheres.

Lembremos que uma de suas primeiras ações foi tirar o status de ministério da Secretaria de Políticas para Mulheres, que passou a ser subordinada ao Ministério da Justiça e Cidadania. E que, logo em seguida, entregou a coordenação desta pasta à ex-deputada Fátima Pelaes. Para quem não sabe, uma antiga feminista que se converteu evangélica e passou a lutar por pautas extremamente conservadoras, como a proibição do aborto.

Junto de sua nomeação, veio o esboço de um plano federal de combate à violência contra a mulher que coloca o assunto como uma questão de polícia. Para o governo Temer, a violência contra a mulher não é resolvida com educação, conscientização e de maneira social. Isso quando dados e estudos apontam que não basta mais policiamento e mais prisões. O velho modelo punitivista muitas vezes já foi mostrado improdutivo.

São muitos os motivos para se entristecer pelo dia de hoje. Mas nós, mulheres, depois de anos de luta por algumas conquistas que vinham caminhando a passos lentos, choramos com mais pesar. É que, além das questões trabalhistas e sociais que nos preocupam, vemos um futuro ainda mais machista que nosso presente se formando, nas mãos de um governo que começa já dizendo que a democracia de nada serve e que nessa nova política mulheres não têm lugar.

 

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