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Porque as mulheres devem celebrar o aumento da licença paternidade

A licença é ainda insuficiente, mas é um grande passo para o reconhecimento de que maternidade e paternidade têm importância igual para os filhos

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Foto: stock.tookapic.com
Foto: stock.tookapic.com

Na minha opinião, poucas decisões de governo neste ano foram tão positivas para as mulheres quanto o aumento da licença paternidade de 5 para 20 dias, que foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 8 de março. Ela é válida para pais que têm filhos biológicos e os que adotam também. Claro, a licença é ainda insuficiente, devia ser muito maior e equivalente à licença maternidade, mas esse já é um grande passo para o reconhecimento de que maternidade e paternidade representam obrigações e satisfações iguais perante os filhos. E isso liberta mulheres.

Ué, mas quem ganhou mais dias de folga foram os homens, não nós – algumas dirão. E eu aponto o equívoco dessa visão: na realidade, os homens não ganharam “dias livres”, mas receberam um período mais justo para que se dediquem exclusivamente a um dos trabalhos mais importantes que existem: trazer uma pessoa ao mundo.

Por muitos anos – e ainda hoje, para algumas pessoas – se acreditou no mito da super mãe, a mãe sagrada que é tudo na vida do filho. Claro que a maternidade é algo lindo e essencial (e confesso estar ansiosa para experimentar esse desafio quando chegar minha hora) mas a paternidade é um trabalho tão importante quanto. E tão lindo. E tão sagrado. E tão recompensador e cheio de obrigações.

Quando reconhecemos que pais devem se dedicar a esse novo serzinho que nasceu, diminuímos a desvantagem competitiva das mulheres no mercado de trabalho e não são apenas elas que se tornam “ônus” para as empresas quando decidem procriar. Começamos a construir uma cultura que entende que o cuidado com as crianças não é uma tarefa de gênero, mas uma obrigação de toda a sociedade. Assim, chefes se tornam mais inclinados a promover mulheres, a entregar obrigações importantes nas suas mãos sem medo de que elas “saiam fora” por conta de uma criança.

Veja bem, não é à toa que 30% mais mulheres que homens perderam o emprego durante a crise no ano passado e menos ainda surpreende que grande parte delas esteja em idade fértil. As empresas têm medo que as mulheres engravidem.

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E quando observações os países com maior equidade de gênero, mais número de mulheres no Parlamento e nas lideranças das empresas, eles também coincidem com aqueles que têm maior licença paternidade: Islândia (90 dias) e Finlândia (76). Isso porque o peso excessivo da maternidade está entre as principais razões para as mulheres ganharem apenas 70% do que os homens no Brasil.

É só lembrar que nosso “querido” deputado Jair Bolsonaro defendeu que mulheres recebam menos porque têm licença maternidade. Se a licença maternidade for equiparada com a paternidade, o argumento se dissolve em lama.

Claro que a lei é só o primeiro passo para uma mudança que deve ser cultural. A revolução feminina no Brasil, como já apontamos em reportagem há alguns meses, vai começar na pia. Estudos mostram que as mulheres não só não são promovidas como não querem ser pois estão sobrecarregadas com tarefas domésticas e no cuidado dos filhos. Se os homens entenderem que têm de partilhar essas tarefas meio a meio, elas ficam mais livres para criar, liderar e fazer política.

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Então, essa é uma celebração das mulheres. E dos homens. E das crianças, que terão ganhos emocionais e psicológicos enormes por poderem contar mais com o amor e a atenção paternos. E para quem ainda não entendeu que o feminismo devia ser uma bandeira de todos porque a sociedade toda ganha com o empoderamento das mulheres, essa lei passa um recado fortíssimo.

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