“Há cerca de duas horas, a estudante Deborah Fabri publicou status no Facebook dizendo que perdeu a visão esquerda na manifestação de ontem contra o impeachment. Estilhaços de bomba atingiram seu olho.
Deborah, eu sinto muito. Quando a polícia é chamada para reprimir manifestações, a mulher é mais uma vez expulsa do espaço público. Se pra nós a rua já é perigosa, o medo aumenta na presença da violência policial. Não por sermos, em média, mais fracas.
O que aconteceu com Deborah (estilhaço no olho) não escolhe gênero, e a força física nada pode contra balas de borracha, gás lacrimogêneo e, sobretudo, com o fato de que o Estado detém o monopólio da violência. O que ocorre é que o medo é nosso companheiro. Nossos amigos nos dizem pra não ir às ruas, ou pra tomar cuidado. Eles dizem isso uns aos outros, mas mulheres ouvem mais. Nós aprendemos a ter medo e fugir, enquanto as mesmas situações levam os homens ao enfrentamento.
Portanto, Governador Geraldo Alckmin, essa fatura é sua. Você é o comandante maior da PM de São Paulo. E seu o ônus de afastar ainda mais as mulheres do espaço público na capital paulista. Você, que sabidamente deseja sentar-se na cadeira do golpista Temer, e que ardilosamente tem se mantido calado enquanto a Lava-Jato e a crise politica derrubam um a um seus oponentes. Você que, por milagre ou por interesse, é poupado pela imprensa quando o assunto é crise hídrica, cartéis do metrô, violência policial. É seu, Geraldo, o olho cego de Deborah Fabri.
Às mulheres que fazem do luto a luta, lembrem-se. As armas dessa polícia covarde não são mais ou menos perigosas por causa do que a gente tem no meio das pernas. Que a gente possa escolher lutar ou calar a partir do coração.