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Depressão pós-parto: “Eu achei que era normal”

Sobrecarga materna e exaustão das mulheres faz com que muitas não recebam o diagnóstico

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“Cada vez que eu falava sobre o puerpério, eu chorava muito. E aí conversando com a minha psicóloga, ela disse: você não foi diagnosticada, mas provavelmente você teve depressão pós-parto. Foi um choque.” A jornalista Ana Paula Costa só conseguiu entender o que sentiu, seis anos depois do nascimento de Bee, apelido carinhoso para Beatriz, durante uma sessão de terapia.

Durante aquele período, ela dividiu os cuidados da filha com o companheiro e foi amparada por uma rede de apoio, mas enquanto fazia as atividades que envolviam a recém-nascida, uma sensação de anestesia e de letargia passaram a fazer parte da rotina. Além delas, uma tristeza constante. 

Nem ela, nem as pessoas ao redor conseguiram identificar que aquele quadro podia revelar algo além de uma fase normal do puerpério.  “Na minha cabeça, a depressão pós-parto era a mulher arrancando os cabelos, ameaçando jogar o bebê pela janela”, confessa Ana.  

Esse estereótipo, amplamente propagado e internalizado socialmente, faz com que mulheres que estejam passando pela doença, mas sofram de outros sintomas, não sejam reconhecidas como pessoas que precisam de ajuda. No vídeo dessa semana do canal d’AzMina no Youtube, Ana e outras três mães que tiveram esse diagnóstico contaram o que sentiram durante esse período.

Número de casos 

Dados do FioCruz mostram que uma em cada quatro mulheres sofre com depressão pós-parto, mas a sobrecarga materna e a exaustão das mulheres, naturalizadas historicamente, faz com que algumas nunca acessem o diagnóstico. “É aquela coisa, né? A bebê está arrumada, está cheirosa, tomou banho? Então está tudo bem. A identidade da mulher é apagada e ela vira a mãe, a provedora de cuidado”, diz Ana. 

Hoje, sempre que pode, Ana compartilha a sua experiência e tenta ajudar outras mães a não passarem pelo puerpério no escuro, uma vez que esse assunto, por vezes, não aparece também nos consultórios. “Eu tive uma médica até um certo período da gestação, depois eu troquei de médico, e nenhum dos dois falou para mim: ‘você pode sentir isso’, então sempre que eu posso, eu tento dar a real.”

Diagnóstico individual, causa coletiva

Embora o diagnóstico seja individual, a causa e a cura são coletivas. Além do fator biológico e psíquico, o contexto social também pesa no surgimento do quadro. “Se tem um monte de homem ganhando dinheiro é porque tem uma mulher em casa segurando as pontas. E quando ela trabalha fora, ela está em casa segurando as pontas também.  Tanto que o que gente vê na maioria dos arranjos familiares é que se a criança fica doente na escola, quem vai buscar é a mãe, né?”, desabafa Ana. 

Apoiar as mães e cobrar os pais a assumirem seu papel são coisas que a sociedade pode fazer para ajudar essas mulheres. Além de oferecer ajuda, sempre que possível. Vale lembrar que exceto a amamentação, todo o resto pode ser feito por qualquer adulto.  “Não venham dizer que ser mãe é padecer no paraíso. Eu quero estar no paraíso, mas eu não quero sofrer no paraíso. Ninguém fala que ser pai é padecer no paraíso, né?”, conclui Ana. 

Veja o relato de Ana e de outras mães no canal d’AzMina no Youtube. Aproveite e se inscreva no canal, tem vídeos novos toda terça-feira e quinta quando dá. 

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