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Histórias das mulheres que vão mudar sua percepção sobre a Paralimpíada

Elas mostram que os jogos não são sobre deficiência e sim sobre a eficiência de quem se supera o tempo todo.

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A Olimpíada já acabou, mas os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro estão aí para matar a saudade. Eles começaram ontem, com a cerimônia de abertura no Maracanã, e vão até dia 18 de setembro. Daqui em diante, os brasileiros vão presenciar um show dos atletas paralímpicos do país – a meta é ficar em quinto lugar no quadro de medalhas. E se já tivemos a “Olimpíada das Mulheres”, agora elas prometem brilhar também na Paralimpíada.

Infelizmente, a delegação brasileira nos Jogos ainda tem um número bem menor de mulheres se comparado ao de homens – são 102 de 286 atletas -, mas nem por isso elas ficam para trás. Abaixo estão algumas histórias de mulheres incríveis que vão mudar sua forma de ver a Paralimpíada do Rio. Como bem disse Susana Schnandorf, é preciso “parar de ver a deficiência para começar a ver a eficiência.”

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Teresinha Guilhermina
Três ouros e seis medalhas paralímpicas no total. Recordista mundial, recordista paralímpica, a cega mais rápida do mundo, como classificou Livro dos Recordes.Teresinha Guilhermina costuma dizer que “sua maior adversária é ela própria” e chega ao Rio como uma das favoritas para as provas de 100m, 200m e 400m da Paralimpíada.

Nascida em Betim (MG) em parto realizado numa carroça pelo próprio pai, Teresinha sofria de retinose pigmentar, uma doença que afeta a retina e, aos 16 anos, ficou assustada ao ser informada de seu diagnóstico: ela só tinha 5% da visão e iria perder o pouco que restava em pouco tempo.

Aos 22, ela se redescobriu no atletismo e, desde então, não parou mais – literalmente. Conquistou um bronze em sua primeira Paralimpíada, em 2004, depois três medalhas nos Jogos de 2008 (uma de cada cor) e saiu de Londres com uma performance inquestionável, levando o ouro nos 100m e nos 200m.

Além da rapidez, outra característica de Teresinha é o estilo: a cada competição, ela aparece com o cabelo de uma cor diferente, com a venda toda brilhante, uma maquiagem e um batom que chama a atenção. “Já basta eu estar no escuro. Quero que as pessoas me vejam alegre”, disse à revista Isto É 2016 no ano passado. E não há mesmo outra forma de ver Teresinha.

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Rosinha dos Santos

Recordista mundial, medalhista paralímpica e medalhista parapan-americana, Roseane dos Santos teve todos os motivos para desistir do esporte e até da vida. Mulher, pobre, negra, ela conta que, quando um caminhão passou por cima de sua perna, que teve de ser amputada , chegou a passar pela cabeça: por que comigo?

“Eu perguntava pra Deus, por quê? A gente já sofre preconceito por ser negro, pobre, mulher, agora deficiente… é muita coisa”, disse.

Nos primeiros anos, ela chegou a se  ‘esconder’ em casa para não precisar exibir sua deficiência. Descobriu o esporte paralímpico por causa de um convite inusitado na rua e acabou tomando gosto pelo arremesso de peso. Mas logo no início, Rosinha enfrentou o preconceito do próprio namorado, que disse que “ela nunca chegaria a lugar nenhum com aquilo”. Mal sabia ele. Já em sua primeira Paralimpíada, em 2000, ela conquistou dois ouros. “Ele dizia que eu nunca seria uma atleta, era besta demais. Hoje, acho que isso acabou me desafiando a treinar mais.”

Mas em 2014, depois de medalhas e recordes mundiais conquistados, a descoberta de um câncer na garganta a fez querer abandonar o esporte. “Na minha cabeça, passou um filme de que eu não estaria aqui por muito tempo, não. Achava que eu ia embora logo.”

Mas ela voltou. Conseguiu se reerguer e, em 2015, conquistou um bronze no Parapan de Toronto, aquela que ela reconhece ter sido a medalha “mais difícil de sua vida”. Agora, no Rio, ela promete fazer de tudo para encerrar sua carreira paralímpica com “chave de medalha” – e, mais do que qualquer coisa, Rosinha espera poder inspirar mais e mais mulheres com sua história.

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Susana Schnarndorf

Sem dúvidas, Susana Schnarndorf é uma das mulheres mais inspiradoras que você vai conhecer. Ela hoje tem 48 anos e irá disputar os Jogos Paralímpicos pela segunda vez. Mas o caminho que ela percorreu para chegar até o Rio vai te surpreender.

Susana sempre respirou esporte, foi triatleta, cinco vezes campeã brasileira na modalidade, disputou 13 IronMan…mas há 12 anos, teve a notícia que iria mudar para sempre essa rotina. Ela foi diagnosticada com atrofia múltipla de sistemas, uma doença degenerativa que ela define assim: “é como se meu corpo fosse desligando enquanto eu ainda estou viva”.

A partir daí, Susana passou a ter dificuldades para fazer coisas tão “básicas” quanto escovar os dentes, falar e até respirar. Hoje, ela tem 40% de sua capacidade respiratória e precisa trabalhar muito bem com ela para poder render o máximo nas piscinas. “O esporte me salvou. É a natação que me mantém viva, que me faz não deixar a doença ganhar.”

Antes de descobrir o esporte paralímpico, Susana passou por poucas e boas. Quase entrou em depressão, teve que deixar os 3 filhos (incluindo a mais nova, que era bebê na época ainda) irem morar com o pai por não ter condição de cuidar deles, e pensou em desistir algumas vezes. “A maior lição que o esporte já me deu é que a gente cai, tropeça, mas tem que aprender a levantar de novo. A gente não pode desistir.”

Em 2012, ela realizou o sonho de disputar os Jogos Paralímpicos. Em 2013, ela foi campeã mundial em Montreal. Hoje, após ter sofrido uma piora na sua doença e nas suas condições, ela não vê a hora de chegar ao Rio e competir do lado das pessoas que mais ama. E, para além da medalha, o maior desejo dela é que as pessoas parem de ver a “deficiência” dos atletas paralímpicos e passem a ver a “eficiência” deles.

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Shirlene Coelho

Houve uma votação para definir quem seria a porta-bandeira do Brasil na Paralimpíada do Rio e entre 18 candidatos, Shirlene Coelho era a única mulher. E foi ela quem venceu. Entre 287 atletas, sendo 181 deles homens, a maioria votou nela para representar o país carregando a bandeira na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos no Maracanã, neste 7 de setembro.

Isso já mostra um pouco do tamanho dessa mulher. Shirlene tem paralisia cerebral desde que nasceu, mas nunca viu isso como um empecilho para viver. Desde pequena, ela sempre foi envolvida com o esporte, jogou futebol, basquete, até ter seu talento para o atletismo descoberto no lançamento de dardos.

Participou de duas Paralimpíadas em sua carreira – em Pequim, 2008, foi medalha de prata, e em Londres conquistou o tão sonhado ouro – e bateu seu próprio recorde mundial na prova.

Nos Jogos do Rio, mais do que medalhas e recordes, ela espera ver uma mudança na forma de as pessoas verem o esporte paralímpico: menos preconceito, mais visibilidade.

“Parece que eles não têm muita credibilidade no atleta paraolímpico. Parece que não acreditam em nós. Quando assistimos à televisão, a gente não vê falar nada. Falam da Olimpíada do Rio, mas sempre se esquecem de que a Paraolimpíada também é aqui. Isso chateia bastante”. É essa realidade que ela e os outros 286 atletas da delegação brasileira – a maior da história em Jogos Paralímpicos – vão tentar mudar no Rio.

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