Ser mulher e jornalista pode ser uma experiência violenta nas redes sociais

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

No Twitter, elas recebem o dobro de ataques e ofensas

Essa foi a primeira mensagem privada que a jornalista e comentarista Eliane Cantanhêde recebeu em uma manhã de novembro nas suas redes sociais.

“Pu**. Vai abrir a perna e dar pro Lula”.

Eliane lidera um ranking de ataques a profissionais de imprensa que, muitas vezes, não se escondem em caixas de mensagem. 

Ofensas que ficam públicas, documentando a violência contra as jornalistas para quem quiser ver.

Seus corpos, suas idades, sua capacidade intelectual e seus relacionamentos pessoais são colocados em xeque.

Entre os termos mais usados contra elas estão “ridícula”, “louca”, “mulherzinha”. Outros sugerem que elas são incapazes de interpretar um texto ou cenário político.

E além dos xingamentos, as jornalistas precisam combater a disseminação de notícias falsas sobre suas trajetórias, outra estratégia política de descredibilização.

“Já entrei no Trending Topics porque usaram uma foto minha dizendo que era da minha prisão por ter assaltado um banco"

Miriam Leitão, jornalista, acrescenta que nunca pegou em uma arma.

Há ainda um recorte de raça. Muitos usuários insinuam que mulheres negras e indígenas se aproveitam de suas características para acessarem os espaços profissionais que conquistaram.

“ Quando um tuíte parte da própria presidência, ou dos parlamentares da base governista, já sei que vai ter uma enxurrada de ofensas”

Mariliz Pereira Jorge, jornalista

Além da experiência violenta que é se deparar com ataques como esses, as profissionais também chamam a atenção para a dificuldade de denunciar isso dentro das próprias plataformas.

Elas contam que já reportaram vários ataques mas não obtiveram respaldo, e que muitas vezes não conseguem distinguir quem é real, pois há muitos robôs e perfis falsos.

O Twitter garante que tem políticas para esses casos.

"Os ataques direcionados às mulheres apontam para um comportamento que coloca o gênero feminino como naturalmente atacável”

 Fernanda K. Martins,  antropóloga, do InternetLab.

Isso, sabemos, tem que mudar.

Essa investigação de dados foi feita pela AzMina e pelo InternetLab, junto ao Volt Data Lab e ao INCT.DD, com financiamento do Carnegie for International Peace e apoio do ICFJ.