“Anjinho”?

O problema da infantilização de mulheres com deficiência

Elas são quase 26 milhões no país, mas a sociedade e o capacitismo definem estereótipos que limitam mais que a própria deficiência. Elas se sentem inferiorizadas, preteridas, solitárias. 

 Você já deve ter ouvido essas palavras, acompanhadas de um tom de voz infantil, quando era criança. Para mulheres adultas com deficiência elas seguem sendo ditas.

“Anjinho”, “fofinha”, “coitadinha”.

Mas essa infantilização vai além, atravessando os relacionamentos, o trabalho e a maternidade e tornando-se também violência sexual.

“Parentes falaram na minha cara que seria um ‘peso’ para as pessoas ao meu redor se eu tivesse um filho”

recordou Ana Raquel Mangili, 27 anos, servidora pública que tem deficiências múltiplas.

Elas precisam provar a todo tempo seus valores e suas habilidades; deixar claros seus desejos e angústias. 

Lutam dia a dia por um espaço que não lhes é dado, e estão cansadas.

“As pessoas enxergam os nossos companheiros como muito benevolentes ou até mesmo como cuidadores”

disse Fernanda Vicari, 40 anos, que possui distrofia muscular, o que a faz usar cadeira de rodas.

Há uma estimativa de que 40% a 68% das mulheres com deficiência sofrerão violência sexual antes dos 18 anos, conforme um estudo do Fundo de Populações da Nações Unidas (UNFPA).

“Elas são sempre colocadas numa posição de coitadas ou como exemplos de superação, o que as mantêm à margem da sociedade"

explicou a psicóloga Névia Rocha, que atende mulheres com deficiência.