A luta das indígenas pelo direito de existir com sua cultura

“Eles falavam  que índio morava no mato”

Cláudia Baré, 43 anos, ouve frases desse tipo desde criança, por ser indígena da etnia Baré e morar na capital do Amazonas.

Cláudia é uma entre os mais de 300 mil indígenas que vivem em áreas urbanas no Brasil, segundo dados do IBGE (2010).

Ela não só ficou na cidade, como participou da fundação do primeiro bairro indígena oficializado pela prefeitura de Manaus, o Parque das Tribos, onde é professora e uma das lideranças femininas.

Formada em pedagogia, Cláudia viu na educação uma oportunidade de mostrar que o Parque das Tribos era sinônimo de fortalecimento cultural. 

Ela implementou lá a educação escolar indígena.

A comunidade abriga mais de 700 famílias de 35 etnias distintas e é liderada por uma cacica, Lutana Kokama, 48 anos. Foi o pai dela que iniciou o lugar em 1986.

Lutana é a primeira mulher manauara a tomar posse do maior cargo hierárquico na cultura indígena. 

Ser cacica é ser mãe de todos os povos.

No Parque das Tribos, mulheres como Cláudia e Lutana lutam por melhores condições e reconexão com a cultura indígena em ambiente urbano. Fazem isso por meio da educação, da arte e da saúde.

A gente conquistou essa terra com muita luta. As pessoas diziam que nós éramos invasores. Mas sempre seguimos a lei

Cacica Lutana, 48 anos

Apesar de ser um espaço de resistência para os moradores, o Parque das Tribos fica na periferia, tem pouca infraestrutura, falta de saneamento básico e má distribuição de energia elétrica.

Em 7 anos de existência, o local se tornou muito mais que uma comunidade multiétnica: é um lugar seguro para praticar a cultura indígena e quebrar paradigmas. E aprender a enxergar outros valores.

“Maloca não existe, mas vai até a casa de um deles e abre a geladeira pra ver se não tem um chibé*”

O chibé é uma comida indígena feita de caldo de farinha para acompanhar o peixe.

Cláudia Baré

Aqui a gente vê que essa memória é real. Ela não existe apenas na história"

Lutana Kokama

Os saberes estão ali vivos.